Washington - O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, terá pedido ao primeiro-ministro do Qatar (com quem esteve reunido há menos de duas semanas) para que este intervenha na cobertura da televisão Al Jazeera, que é indiscutivelmente o órgão de comunicação social com maior presença no Médio Oriente e, em particular, nos territórios ocupados da Palestina.
A notícia é avançada pelo site Axios, que noticia que Blinken falou sobre o pedido durante um encontro com líderes da comunidade judaica na segunda-feira.
Blinken esteve em Doha no passado dia 13 de Outubro, depois de ter viajado por Telavive, e terá dito a Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim al-Thani que a Al Jazeera devia ter uma cobertura mais contida sobre a guerra. Uma fonte disse que o secretário de Estado apelou ao governo catari para "baixar o volume da cobertura da Al Jazeera porque está cheia de incitamento anti-israelita", não dando exemplos sobre a mesma cobertura.
A televisão, com bastante influência britânica mas de origem catari, é um órgão de comunicação independente do governo, cobrindo o Médio Oriente mais a fundo do que a grande maioria de órgãos de comunicação internacionais, especialmente ocidentais.
É também dos poucos órgãos com uma forte presença na Faixa de Gaza, com repórteres espalhados por hospitais, por abrigos da ONU e pelas ruas do enclave; tem também uma cobertura quase constante sobre incidentes na Cisjordânia e, ainda, na fronteira entre Israel e o Líbano.
Mas a Al Jazeera é também criticada, tanto por governantes ocidentais, como pelo mundo árabe. Se o Ocidente se queixa que a emissora reflete a política externa do Qatar, líderes árabes queixam-se que esta aborda muitas vezes a perspectiva ocidental sobre problemas do Médio Oriente e Norte de África. Israel critica a emissora por este emitir os comunicados do Hamas.
A Al Jazeera não respondeu a um pedido da Axios para comentar sobre o alegado pedido de Blinken, tal como os governos norte-americano e qatari.
A notícia surge ainda numa altura em que o Qatar assume uma maior preponderância no processo de mediação do conflito entre o Hamas e Israel e, esta quarta-feira, o chefe da Segurança Nacional de Israel elogiou mesmo "os esforços diplomáticos do Catar".
Em Dezembro de 2022, a Al Jazeera avançou com um processo no Tribunal Penal Internacional, em Haia, contra o exército israelita, pedindo que sejam investigados e acusados os responsáveis pela morte da jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh, numa rusga israelita num campo de refugiados em Jenin, na Cisjordânia ocupada, a 11 de Maio.
A morte de Shireen Abu Akleh, um símbolo da imprensa palestiniana, tornou-se num momento de grande tensão na região, com imagens do funeral da repórter a serem transmitidas enquanto soldados israelitas agrediam os homens que carregavam o caixão.
Depois de meses em que Israel negou que tivesse alvejado Shireen, alegando que a bala que a matou tinha partido de fogo cruzado palestiniano (mesmo quando as investigações independentes diziam o contrário), o exército israelita finalmente admitiu que tinha sido responsável pela morte da jornalista, mas recusou investigar os responsáveis.DSC