Naipidau - A junta militar que tomou o poder em Myanmar cortou a internet pela segunda noite consecutiva, numa atmosfera de tensão no país, depois de o exército ter colocado tropas nas ruas para tentar reprimir o movimento pró-democracia.
Esta interrupção das ligações à Internet, anunciada segunda-feira à noite por alguns fornecedores aos seus clientes, ocorre num ambiente de tensão crescente com o movimento de desobediência civil, que apesar da presença de tropas nas ruas continua a desafiar a repressão dos militares.
A junta militar também tem bloqueado redes sociais como o Facebook e o Twitter para impedir a organização de mobilizações, ao mesmo tempo que reformou leis para subtrair direitos fundamentais e permitir detenções arbitrárias.
Em Mandalay, a segunda cidade do país, a polícia e os soldados dispararam indiscriminadamente na segunda-feira para dispersar uma manifestação, enquanto em Rangum, a cidade mais populosa, grupos de manifestantes mostraram a sua rejeição da junta militar com bandeiras que diziam "Acabem com a ditadura" à medida que tanques e camiões militares passavam.
Um dos activos mais eficazes do movimento de desobediência civil contra o golpe são as greves iniciadas pelos trabalhadores do sector da saúde e que estão a ser seguidas por muitos funcionários públicos, o que está a paralisar a administração.
Uma das exigências dos manifestantes é a libertação da líder eleita Aung Sang Suu Kyi, que tem estado sob prisão domiciliária desde que o exército tomou o poder.
Suu Kyi permanecerá detida até pelo menos quarta-feira.
Um total de 426 pessoas foram detidos desde o início revolta militar.
No dia 01 de Fevereiro, o exército prendeu a chefe do governo civil, Aung San Suu Kyi, o Presidente, Win Myint, e vários ministros e dirigentes do partido governamental, proclamando o estado de emergência e colocando no poder um grupo de generais.
O golpe militar pôs fim a uma frágil transição democrática de 10 anos.
UE, Estados Unidos, ONU, Japão, França e Reino Unido foram algumas das vozes internacionais que criticaram de imediato o golpe de Estado promovido pelos militares em Myanmar.
Nos dias seguintes ao golpe militar, sucessivos protestos contra o golpe de Estado ocorreram em várias cidades de Myanmar e a tensão nas ruas tem-se mantido, apesar da Junta Militar ter decretado a lei marcial.
O medo de represálias é grande, uma vez que na antiga Birmânia os últimos levantamentos populares de 1988 e 2007 foram reprimidos com violência pelos militares.