Negros beneficiaram com escravatura no novo currículo da Flórida

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  • Luanda     Sábado, 22 Julho De 2023    11h47  
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Washington - O novo currículo de estudos sociais da Flórida, nos Estados Unidos, vai apresentar uma versão historicamente incorrecta e discriminatória sobre o processo de escravatura no país, indica hoje agência Reuters

Com os documentos para o próximo ano lectivo a afirmarem que a população negra retirou "benefícios pessoais" do processo que "os escravos desenvolveram competências".

A notícia foi avançada pela CBS News que analisou os documentos referentes ao currículo da disciplina de estudos sociais, no capítulo sobre estudos afro-americanos.

As expressões e ensinamentos em causa serão leccionados a crianças entre os sexto e oitavo anos norte-americanos, para estudantes entre os 11 e 14 anos de idade, no próximo ano lectivo.

O novo plano escolar foi aprovado quarta-feira, numa reunião da administração educativa do estado da Flórida.

As aulas incluirão capítulos sobre a compreensão das "causas, cursos e consequências do tráfico de escravos nas colónias", e será pedido aos alunos que descrevam "o contacto dos exploradores europeus com o sistema sistemático de troca de escravos em África".

Assim, atribuindo uma boa parte da responsabilidade pelo crime aos povos africanos, algo que é simplesmente errado, já que vários estudos e documentos sobre o período demonstram que os países europeus foram claramente os principais responsáveis pela disseminação da escravatura e do racismo estrutural que daí adveio.

O texto que menciona "benefícios pessoais" para pessoas negras está incluído numa "clarificação" a uma aula que pede que os estudantes "examinem os vários deveres e funções dos escravos", como trabalho agrícola, serviço doméstico, entre outras tarefas.

O estado da Flórida tem sido um dos principais responsáveis pelo extremar do discurso de extrema-direita nos Estados Unidos, muito graças ao seu popular governador (e agora candidato presidencial), Ron DeSantis.

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, já reagiu à decisão, considerando que os republicanos na Flórida estão a "enganar" a população, e atacando-os por serem "extremistas que querem apagar a nossa história completa e censurar as nossas verdades".

Além de DeSantis, membros da administração escolar também criticaram a vice-presidente Harris, que é negra, e sublinharam à CBS News que "qualquer tentativa de reduzir escravos a meras vítimas da opressão falha em reconhecer a sua força, coragem e resiliência durante um período difícil".

"Os alunos da Flórida merecem dizer como é que os escravos aproveitaram as circunstâncias para beneficiar delas", defenderam.

Algo que é amplamente contestado e condenado por organizações anti-racistas e de defesa dos direitos da população negra nos Estados Unidos.

De recordar que os EUA foram dos países que mais escravos acolheram durante o período de tráfico de escravos transatlântico, cerca de 10 milhões ao longo de vários séculos, e um dos que mais beneficiaram, especialmente no sector do algodão. 

O legado deste sistema de enorme opressão continua nos tempos de hoje, com o último resquício legal a ser afastado apenas em 1965, com a promulgação da Lei dos Direitos Civis e o fim da discriminação racial no direito de voto (algo que voltou a ser atacado nos últimos em estados conservadores,  na Geórgia).

O estado da Flórida tem sido um dos principais responsáveis pelo extremar do discurso de extrema-direita nos Estados Unidos, muito graças ao seu popular governador (e agora candidato presidencial), Ron DeSantis.

O país atravessa aquilo que líderes republicanos procuraram catalogar de 'guerra cultural', reagindo de forma negativa ao aumento de visibilidade de vários temas de direitos sociais.

Os ataques conservadores ao progresso de direitos sociais ocorrem, em grande parte, na educação, a censura de livros e manuais escolares, e esta censura, muitas vezes pedida por legisladores conservadores e por associações de pais, tem levado ao afastamento de livros que abordam direitos da comunidade LGBTI+, especialmente livros infantis com histórias de amor não-heteronormativas, ou que ajudem crianças e jovens 'queer' a responder a dúvidas.

Outro tema que serve de justificação para os estados banirem livros é uma maior representatividade de pessoas negras em livros, e críticas mais constantes ao racismo estrutural na sociedade norte-americana.

Alguns estados, como a Flórida, chegaram mesmo a banir livros de matemática que considera, contém "racismo contra brancos".  GAR





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