Nova Iorque - O Conselho de Segurança da ONU deverá debater na segunda-feira a questão do Saara ocidental pela primeira vez desde a recente ruptura do cessar-fogo e o reconhecimento pelos EUA da soberania de Marrocos sobre este disputado território.
A sessão, que segundo fontes diplomáticas foi solicitada pela Alemanha, terá por tema "A situação no Saara ocidental" que opõe Marrocos e o movimento independentista Frente Polisário, e está prevista uma exposição pela secretária-geral adjunto da ONU para os Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo. ´
O encontro deverá decorrer na parte da tarde e à porta fechada, à semelhança de todas as reuniões sobre este dossier, indicaram as mesmas fontes à agência noticiosa AFP.
Marrocos controla 80% deste território desértico de 266.000 quilómetros, e apenas admite uma autonomia sob a sua soberania.
A Polisário pretende um referendo sobre a autodeterminação previsto pelo acordo de cessar-fogo assinado em 1991 através de mediação da ONU, após 16 anos de guerra.
A operação da ONU na região, designada Missão das Nações Unidas para a organização de um referendo no Saara ocidental (Minurso), responsável pelo controlo do fim das hostilidades, foi renovada em Outubro por mais um ano.
As resoluções da ONU têm sido redigidas pelos Estados Unidos, mas admite-se que membros do Conselho de Segurança solicitem que esta tarefa seja confiada a outro país após o reconhecimento por Donald Trump da soberania marroquina, em troca da anunciada normalização das relações diplomáticas entre Rabat e Israel.
"Os africanos e a Argélia podem considerar que os Estados Unidos já não são neutros", indicou à AFP um diplomata sob anonimato.
Na sua proclamação de 11 de Dezembro, o Presidente norte-americano Donald Trump afirmou que "os Estados Unidos consideram que um Estado independente sarauí não é uma opção realista para solucionar o conflito e que uma verdadeira autonomia sob soberania marroquina é a única solução possível".
A ruptura do cessar-fogo ocorreu em 13 de Novembro e a Polisário referiu-se de seguida a trocas de disparos ao longo do muro de areia que separa os dois campos, uma alegação que não foi confirmada por outros intervenientes.
O especialista da ONU Richard Gowan, que integra o centro de reflexão International Crisis Group, assinalou que "a maioria dos membros da ONU vão considerar que será conveniente manter uma posição discreta e aguardar o que fará Joe Biden [o Presidente eleito dos EUA] no próximo ano".
Neste sentido, "de nada serve manter um debate conflituoso no Conselho de Segurança ou na Assembleia geral", considerou.
"O mandato da Minurso decorre até Outubro, e assim há tempo para que Biden possa reverter a posição de Trump ou encontrar uma fórmula que evite uma disputa no Conselho de Segurança durante o próximo ano", prognosticou.
