Nova Iorque - António Guterres, que é reconduzido sexta-feira, 18, ao cargo da ONU, definiu em Maio o que pretende fazer ao longo dos próximos cinco anos, ao afirmar que vai ser um "construtor de pontes" e um "intermediário honesto".
A ideia foi expressa a 7 de Maio, numa sessão de diálogo informal representantes dos Estados-membros da ONU, na sede da organização, em Nova Iorque, em que, num discurso introdutório, declarou que desde jovem tinha a vontade de "lutar por um mundo melhor, para superar a desigualdade, a pobreza e garantir que as pessoas sejam livres e tenham acesso às oportunidades".
Foi essa a razão que, disse então, o fez entrar na política e o guiou durante o mandato como primeiro-ministro de Portugal, entre 1995 e 2002.
Mais tarde, como alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Guterres disse ter sido confrontado "com algumas das pessoas mais vulneráveis do planeta", recordando, porém, que a protecção das pessoas mais pobres e vulneráveis, durante os dez anos em que esteve no cargo, se mostrou insuficiente para impedir as causas iniciais conflitos.
"Enquanto fornecíamos protecção e ajuda humanitária a milhões de pessoas, a nossa resposta era paliativa e de remédio.
Não lidava com as causas subjacentes que levavam ao sofrimento em primeiro lugar. Não existem soluções humanitárias para os problemas humanitários. A solução é sempre política", defendeu, então, Guterres.
E foi por esse motivo que decidiu candidatar-se a secretário-geral da ONU, cargo que iniciou a 01 de Janeiro de 2017.
Depois de, em Março, ter dado a conhecer a sua visão ("Vision Statement"), Guterres aproveitou esse diálogo para "um testemunho mais pessoal", prometendo lidar com "os complexos desafios" da actualidade com uma "abordagem humilde".
"O secretário-geral, sozinho, não tem todas as respostas, nem procura impor os seus pontos de vista", afirmou, defendendo o apoio mútuo entre a ONU e os 193 Estados-membros, posicionando-se como "convocador, um mediador, um construtor de pontes e um intermediário honesto" para ajudar a encontrar "soluções que beneficiem a todos".
Declarando-se "afortunado" com as oportunidades que teve na vida, disse querer "honrá-las no serviço da humanidade, para um propósito maior e com extrema humildade".
Continuou a intervenção para aludir à história portuguesa, explicando a sua experiência na ditadura e na Revolução dos Cravos, "trabalhando para a emergente democracia no próprio país".
Guterres voltou a sublinhar alguns dos princípios guiadores no seu mandato: crise climática, degradação ambiental, desigualdades, ciberataques, proliferação nuclear, direitos humanos como "riscos existenciais".
Satisfeito com "alguns progressos", Guterres declarou ser preciso "superar alguns dos legados do século XX e uma série de contradições" na ONU, como as guerras e "conflitos que são mais complexos que nunca".
Na mesma ocasião, o secretário-geral criticou a "globalização, progresso tecnológico e económico, sistemas que se baseiam no consumo infinito e ignoram a coesão social, o desenvolvimento sustentável e bem-estar" para indicar que também contribuíram para o crescimento de desigualdades, criando divisões, principalmente na área digital, e causando estragos à natureza e ao clima.
Guterres voltou, depois, a defender um "Novo Contrato Social" para a reconstrução da sociedade depois da pandemia de covid-19 e declarou que a ONU juntou todos os esforços para distribuir vacinas em todo o mundo.
"Acredito que estamos num ponto de viragem na história", acrescentou, dizendo ser "um imperativo superar a falsa dicotomia entre soberania nacional e direitos humanos".
"Apesar da maior conectividade, as sociedades estão a tornar-se mais fragmentadas", concluiu.
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