Londres - O Sindicato de Jornalistas de Portugal confirmou que mais de duas dezenas de órgãos de comunicação, incluindo a agência de notícias estatal Lusa, estão com as actividades paralisadas total ou parcialmente nesta quinta-feira, devido à greve geral de 24 horas convocada para exigir melhores salários e condições de trabalho.
Rádios como a Antena 1, da estatal RTP, veicularam à meia-noite uma mensagem informando os ouvintes sobre a paralisação. A Lusa deixou de publicar notícias e avisou aos clientes de seus serviços.
“Por respeito à greve decidida em congresso pelos jornalistas portugueses e na defesa da dignidade do serviço público prestado pela agência, a Direcção de Informação da Lusa decidiu interromper o serviço da agência de notícias”.
Desde 1982 não havia uma greve geral de jornalistas em Portugal. A paralisação foi aprovada por unanimidade no Congresso dos Jornalista em Janeiro deste ano.
Outra havia sido feita nesse mesmo mês, mas limitada aos profissionais dos títulos do Global Media Group, ameaçados de demissão. Há dois dias, demissões foram confirmadas no Diário de Notícias e em outros veículos do grupo.
Segundo o Sindicato de jornalistas, o impacto da greve geral mudou a rotina das redacções nos últimos dias.
Muitos chefes, preocupados com a adesão, anteciparam o encerramento de edições impressas, fizeram convites antecipados para programas, trocaram turnos para se preparar para faltas dos grevistas ou reforçaram equipas para atenuar o impacto da paralisação.
Em entrevista à rádio Observador na manhã desta quinta-feira, o presidente da entidade, Luís Simões, disse que a adesão estava elevada. Vários jornais importantes, como Expresso e Público, veicularam alertas sobre o volume reduzido de notícias neste dia.
Foram marcadas manifestações em várias cidades do país, como Coimbra, Lisboa, Porto, Ponta Delgada e Faro.
Entre as reivindicações estão aumentos salariais em 2024 superiores à inflação acumulada desde 2022 e a melhoria na remuneração dos freelancers e dos iniciantes, progressão de carreira, pagamento de horas extras e adicionais para trabalho nocturno e em fins-de-semana e o fornecimento de equipamentos para captura de sons e imagens, hoje custeados pelos próprios profissionais.
O Sindicato pede também a intervenção do Estado na garantia da sustentabilidade financeira do jornalismo e a revisão das estruturas regulatórias da comunicação social e da mídia “garantindo a sua actualização e capacidade para salvaguardar a qualidade da informação”.
“A insegurança no emprego e os salários baixos praticados no sector são graves obstáculos ao desenvolvimento pleno da profissão de jornalista, e um entrave ao próprio direito dos cidadãos de serem informados livremente”, diz a entidade.
“Não é aceitável demitir quem tem décadas de experiência editorial porque ganha um pouco mais que a média. Não é aceitável que os fotojornalistas paguem pelo seu próprio equipamento. Não é aceitável que os estagiários recebam 150 euros por mês. Não é aceitável que os freelancers recebam 20 euros por artigo. Não é aceitável que metade dos municípios do país não tenha jornal local”, afirmou o Sindicato dos Jornalistas Portugueses.
Há um ano, a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista registou um total de 5,3 mil jornalistas em Portugal.
De acordo com o estudo Media Trust.Lab 2022 sobre ‘desertos de notícias’, mais de metade dos municípios em Portugal vivem uma “ situação de deserto de notícias ” ou em vias de se tornarem um, apontou a Federação Internacional de Jornalistas. DSC/JM