Washington - Seis ex-agentes da autoridade do estado norte-americano do Mississippi foram condenados, esta quarta-feira, por um juiz estatal a penas entre os 15 e os 45 anos de prisão por terem torturado dois homens negros durante uma busca domiciliária em Braxton, para a qual não tinham mandato.
A sentença estatal surge semanas após um juiz federal ter condenado os agentes a penas de prisão que variam entre os 10 e os 40 anos, segundo a CNN Internacional.
O crime aconteceu a 24 de Janeiro de 2023 quando os seis agentes - cinco antigos adjuntos do xerife do condado de Rankin e um antigo agente do Departamento de Polícia de Richland - foram accionados para um alerta sobre actividades suspeitas em Braxton, no Mississippi, e entraram na casa de Michael Jenkins e Eddie Parker, que foram torturados e abusados com um brinquedo sexual durante várias horas. Jenkins foi baleado na boca e esteve em perigo de vida.
Do total de seis agentes, pelo menos três faziam parte do auto-intitulado 'Goon Squad' ('Esquadrão Rufia'), na qual usavam força excessiva para fazer com que suspeitos confessassem os crimes.
Brett McAlpin, de 53 anos, ex-adjunto do condado de Rankin, foi o primeiro a ouvir a sentença e foi condenado a 20 anos de prisão estatal. Enquanto um dos principais líderes do esquadrão, disse aos restantes agentes o que fazer durante a busca domiciliária.
Christian Dedmon, de 29 anos, e Daniel Opdyke, de 28, ambos agentes do condado de Rankin, foram condenados a 25 e 20 anos de prisão.
Já Hunter Elward, de 31 anos, o ex-delegado do condado de Rankin que baleou Jenkins na boca, foi condenado a 45 anos de prisão por acusações de agressão agravada, roubo/invasão de domicílio e conspiração para dificultar a investigação.
Por sua vez, Joshua Hartfield, de 32 anos, antigo agente da polícia de Richland, foi condenado a 15 anos de prisão pelas acusações estatais de obstrução à acção penal e de conspiração para obstruir a acção penal.
"Meritíssimo, eles mataram-me. Eu simplesmente não morri", disse.
Durante a audiência em tribunal, Malik Shabazz, advogado de Michael Jenkins, leu uma declaração da vítima antes de ser conhecida a sentença, na qual pediu ao juiz para "levar a sério os crimes".
"Meritíssimo, por favor, leve a sério estes crimes cometidos pelo 'Goon Squad'", afirmou. "Meritíssimo, é verdade que eu e o Eddie fomos insultados com nomes racistas".
"Depois de Hunter Elward me ter baleado, deixaram-me a morrer, a sangrar no chão. Meritíssimo, eles mataram-me. Eu simplesmente não morri", acrescentou.
Jenkins afirmou ainda que os agentes tentaram tirar-lhe a "virilidade" e fizeram "coisas inimagináveis, cujos efeitos perdurarão para sempre".
Já Eddie Parker, numa declaração lida também pelo advogado Malik Shabazz, afirmou que foi agredido "por aqueles que juraram proteger e servir".
"Nunca imaginei que aqueles que juraram proteger e servir seriam aqueles de quem precisaria de protecção. A humilhação e o embaraço causados pela agressão sexual são demasiado grandes para que eu possa falar deles. Por isso, estou a fazer terapia agora e para o futuro", contou.
"A minha vida não era perfeita, mas era a minha. Duvido que alguma vez possa voltar a vivê-la. Gostava de não ter de viver a memória desta sessão de tortura, mas também não posso fazer isso. Não posso apagar as minhas memórias, mas vou lutar para continuar a viver. Eles deviam receber o que me deram a mim e a Michael Jenkins, ou seja, nenhuma misericórdia. Rezo para que seja aplicada a pena máxima", acrescentou.
Segundo o juiz, todas as sentenças estatais serão executadas simultaneamente com a sentença federal. JM