Cabul - A retirada de estrangeiros e afegãos que trabalharam para organizações internacionais estava a ser hoje organizada em condições muito difíceis em Cabul, na sequência da tomada de poder pelos talibãs no Afeganistão, segundo a agência France-Presse (AFP).
Os militares norte-americanos montaram uma operação para garantir a segurança no aeroporto de Cabul, onde foi reagrupado o pessoal da embaixada dos Estados Unidos para ser retirado do país, disse o Departamento de Estado.
Washington enviou 6.000 militares para o Afeganistão para retirar cerca de 30.000 diplomatas norte-americanos e civis afegãos que trabalharam para os Estados Unidos.
Os voos comerciais foram cancelados e as tropas norte-americanas dispararam para o ar para tentar controlar uma multidão de afegãos que invadiram a pista do aeroporto de Cabul, num clima de caos total.
A BBC citou testemunhas segundo as quais pelo menos duas pessoas morreram hoje no aeroporto de Cabul, mas outras fontes admitem que o número poderá ser superior, embora se desconheça se foram mortas devido a disparos ou esmagadas pela multidão.
O canal árabe Al Jazeera mostrou um vídeo que circula nas redes sociais em que se vê centenas de pessoas a correr ao lado de um avião militar norte-americano na pista do aeroporto.
Numa declaração conjunta, os Estados Unidos e 65 outros países defenderam que os cidadãos afegãos e estrangeiros que queiram fugir do Afeganistão "devem ser autorizados a fazê-lo", advertindo os talibãs de que devem dar mostras de responsabilidade nesta questão.
A União Europeia (UE) já tinha reconhecido que a chegada dos talibãs à capital do Afeganistão tornou "ainda mais urgente" a necessidade de proteger os afegãos ao seu serviço, para que não sejam alvo de represálias.
O Alto Representante da UE para a Política Externa convocou uma reunião extraordinária de ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 para terça-feira, para discutir a situação no país.
Também o Conselho de Segurança das Nações Unidas vai reunir-se hoje para discutir a situação.
Além dos EUA, vários outros países, incluindo Alemanha, França, Países Baixos e Espanha, também transferiram o seu pessoal diplomático para o aeroporto.
A Alemanha tenciona também enviar soldados para o país para garantir a segurança da retirada dos seus cidadãos e de 2.000 afegãos ao seu serviço, disseram fontes parlamentares citadas pela AFP.
A Espanha anunciou que vai enviar hoje dois aviões para o Dubai para a "primeira fase" da retirada do pessoal diplomático e de funcionários afegãos e seus familiares.
A Suécia disse que os seus 19 cidadãos que estavam no país já chegaram a uma base norte-americana em Doha e a Finlândia deverá retirar hoje o pessoal diplomático.
Um avião militar aterrou hoje de manhã em Praga com 46 checos e afegãos, incluindo mulheres e crianças.
A França enviou militares para os Emirados Árabes Unidos para ajudar na retirada de franceses, que deverá iniciar-se ainda hoje, segundo o Ministério da Defesa.
O Reino Unido enviou 600 soldados para retirar os seus nacionais e o pessoal local, segundo o Governo. O primeiro voo chegou durante a noite a uma base no centro de Inglaterra.
A Irlanda também está em contacto com 23 dos seus nacionais, 15 dos quais "pensam partir", e já emitiu vistos para 45 funcionários afegãos.
O Canadá anunciou o encerramento temporário da embaixada em Cabul no domingo à noite, e indicou que o pessoal canadiano já se encontrava em viagem.
A retirada de cidadãos dinamarqueses e noruegueses estava também em curso, disse a ministra da Defesa dinamarquesa, Trine Bramsen.
O Governo polaco disse hoje que emitiu 45 vistos humanitários para afegãos que tinham trabalhado para a Polónia ou para a delegação da UE em Cabul e respetivas famílias.
Três expatriados suíços foram retirados de Cabul e estão em curso esforços para transportar cerca de 40 afegãos e as suas famílias, disse hoje o Governo suíço.
A bandeira dos EUA foi retirada hoje da embaixada em Cabul, e "quase todo" o pessoal, incluindo o encarregado de negócios, Ross Wilson, está no aeroporto à espera de ser retirado do país, disse o Departamento de Estado.
A Rússia não prevê a evacuação da sua embaixada, segundo o enviado da presidência russa para o Afeganistão, Zamir Kabulov.
A Rússia está entre os países que receberam garantias dos talibãs sobre a segurança das suas embaixadas, disse Kabulov, citado pela AFP.
Os talibãs assumiram o controlo do Afeganistão no domingo, depois de uma ofensiva lançada após o início da retirada das forças internacionais do país, 20 anos depois de terem sido afastados do poder por uma coligação liderada pelos Estados Unidos, depois de recusarem em entregar o líder da Al-Qaida, Usama bin Laden, responsável pelos atentados de 11 de Setembro de 2001.