Paris - A circulação de camiões e mercadorias pelo canal da Mancha fluiu "sem qualquer problema" na sexta-feira, nas primeiras horas da saída definitiva do Reino Unido da União Europeia, apesar dos receios de bloqueios e caos.
Cerca de 200 camiões atravessaram na noite de sexta-feira, após o restabelecimento das formalidades alfandegárias, informou a direcção da Getlink, operadora do canal.
Após uma interrupção no tráfego marítimo na véspera de Ano Novo, uma primeira balsa do Reino Unido atracou no porto francês de Calais às 10h15 locais.
A "Pride of Kent", da empresa P&O; Ferries, desembarcou 36 camiões nas docas, dos quais três foram direccionados para controlos adicionais, e os demais foram autorizados a continuar a jornada, apurou a AFP.
Do lado francês, as novas formalidades entraram em vigor à meia-noite, com a chegada ao "pit stop", posto de controlo dos camiões com destino ao Reino Unido, de um primeiro veículo pesado da Romênia, transportando correio e pacotes.
"É um dia difícil para a Europa", reconheceu o secretário de Estado francês para os Assuntos Europeus, Clément Beaune, que se deslocou ao porto fronteiriço juntamente com o ministro das Contas Públicas, Olivier Dussopt.
"Mas graças aos preparativos, estamos prontos", disse.
A polícia britânica fechou trechos da estrada principal para Dover, a M20, como parte do seu plano para gerir o tráfego de camiões em direcção ao porto do sudeste da Inglaterra.
Para circular em Kent, os camiões com destino à Europa precisam de uma autorização, entregue por meio electrónico, comprovando o cumprimento prévio das novas formalidades.
Os infractores podem receber uma multa de 300 libras esterlinas. As autoridades disseram na quinta-feira que emitiram cerca de 500 dessas licenças - válidas por 24 horas - e esperavam um total de 800.
A primeira balsa ferroviária do Reino Unido também descarregou o seu primeiro lote de camiões sem dificuldade.
Em França, as empresas também devem declarar as suas mercadorias antecipadamente online, por meio do sistema "fronteira inteligente".
Com base nestas declarações e numa análise de risco efectuada durante a travessia, os transportadores recebem um sinal verde que lhes permite continuar a viagem ou uma luz laranja para os deter e fazer passar pelos comandos.
O presidente do porto, Jean-Marc Puissesseau, disse na quinta-feira que está "sereno" no que diz respeito à gestão de tráfego, "porque nos últimos três anos conseguimos refinar o que havíamos preparado" para amortecer o Brexit.
Hoje, 70% do comércio entre o Reino Unido e a UE passa por Calais e Dunquerque. Em média, 60 mil passageiros e 12 mil camiões as cruzam diariamente.