Benguela – O primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, foi um construtor de pontes, que lutou pela união dos movimentos de libertação nacionais para fazer frente ao colonialismo português, considerou hoje, o historiador Auxílio Muhongo.
Segundo o também professor universitário, Neto criou condições para o diálogo com os demais líderes de movimentos políticos angolanos da altura, como Holden Roberto, da FNLA, e Jonas Savimbi, da UNITA, mostrando-os que o inimigo comum era o coloniasmo português.
Auxílio Muhongo disse que o Presidente Neto foi uma figura que sempre defendeu que as relações entre os povos deveriam ser contínuas e que nunca deveriam ser atacadas, mas sim o regime colonial.
Falando numa palestra sobre a “Vida e obra do fundador da nação angolana”, na Mediateca de Benguela, no quadro da semana do Herói Nacional, o historiador considera difícil caracterizar a figura de Agostinho Neto, tendo em conta as suas dimensões política, poética, cultural e pan-africanista.
Num historial que versou sobre a muldimensionalidade do Herói Nacional, apontou igualmente a sua relação com os chamados “pais do pan-africanismo", entre os quais, Julius Nyerere, Kwame Nkrumah, Leopold Senghor, como parte de uma trajectória que enriquece a sua grandeza política.
“Uma vez que era um homem que defendia que apesar da independência de Angola, nunca poderemos nos sentir verdadeiramente livres se ainda haver povos africanos oprimidos” – daí a tese segundo a qual na Namíbia, na África do Sul e no Zimbabwe, está a continuação da nossa luta.
Aliás, advogou, o reconhecimento que teve ao ser-lhe atribuído o prémio "Lotus", terá sido um reconhecimento da Conferência de Escritores Afro-asiáticos e não apenas uma solidariedade da África lusófona e francófona, fruto da sua grandeza política.
Ao longo da palestra, os participantes indagaram o historiador sobre as diversas facetas de Neto, ao que Auxílio Muhongo prontamente respondeu.
António Agostinho Neto (1922-1979) foi o primeiro Presidente da República de Angola. Era médico de profissão, poeta por vocação e um líder por natureza. Nascido a 17 de Setembro de 1922, na aldeia de Kaxicane, freguesia de São José, no município de Ícolo e Bengo, na província de Luanda, era filho do pastor metodista, Agostinho Neto, catequista da missão metodista americana em Luanda (sendo mais tarde pastor e professor nos Dembos), e da professora Maria da Silva Neto.
Após concluir o ensino primário, entrou para o Liceu “Salvador Correia”, em Luanda, onde terminou o 7º ano em 1944. Depois, partiu para Portugal para frequentar a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Colaborou em várias revistas, jornais e publicações culturais e publicou diversos livros, dos quais se destacam o seu primeiro livro, Náusea (1952), Quatro Poemas de Agostinho Neto (1957), Com os Olhos Secos (1963), Sagrada Esperança (1974), A Renúncia Impossível (1982) e a sua Obra poética completa (2016, Fundação Agostinho Neto de Lisboa).
Recebeu o prémio Lótus (1970) na 4ª Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos e o Prémio Nacional de Literatura (1975). Entre as suas obras de tipo político e social se destacam: Quem é o inimigo…qual é o nosso objectivo? (1974), Destruir o velho para construir o novo (1976) e Ainda o meu sonho (1980).