Luanda – A assinatura dos acordos de paz definitiva, a 4 de Abril de 2002, abriu novos horizontes para milhares de jovens angolanos, que ressaltam a importância dessa conquista e apelam ao Governo para a melhoria das políticas públicas.
Por Francisca Augusto
Os acordos de 2002, rubricados entre o Governo e a UNITA, "encerraram uma página" de 27 anos de conflito armado, que causou milhares de deslocados e destruiu estratégicas infra-estruturas, cuja recuperação tem vindo a animar, sobremaneira, a classe juvenil.
Dados disponíveis estimam que, durante o conflito, foram espalhadas em Angola cerca de 10 milhões de minas terrestres, comprometendo duramente os sectores da Agricultura e Pecuária, bem como da Educação, fundamental para a instrução dos jovens.
Em quase 30 anos, Angola pagou um duro preço com a guerra que adiou o sonho de milhares de cidadãos, particularmente a juventude, hoje empenhada em cimentar os fundamentos da paz, da democracia e do desenvolvimento integrado do país.
Volvidos 20 anos desde o "calar das armas", é notória, entre milhares de jovens angolanos, a percepção de que a guerra é obra do passado, embora ainda existam inúmeros desafios, principalmente a erradicação da pobreza.
Apesar das assimetrias e carências ainda muito comuns nos domínios da Saúde, Educação, Habitação, Energia e Águas, bem como do emprego, os jovens angolanos defendem a necessidade da contínua preservação da paz.
Para este segmento, um dos maiores frutos dos 20 anos de estabilidade política e militar em Angola é a reconciliação nacional, pressuposto indispensável para uma convivência pacífica entre os angolanos, fundamentalmente neste ano eleitoral.
Entretanto, para além dos avanços registados neste domínio, os jovens destacam a necessidade da aposta no sector da Educação, por assegurar a transmissão de valores éticos e morais que proporcionam ao indivíduo capacidade para enfrentar os desafios.
Como resultado da paz, o Sistema Nacional de Educação tem, hoje, uma rede pública de 18 mil e 297 escolas (97 mil e 459 salas de aula e 181 mil e 624 professores), números superiores aos do tempo da guerra.
De acordo com jovens ouvidos pela ANGOP, a propósito dos ganhos da paz e das premissas para o desenvolvimento nacional, trata-se de uma conquista que veio para ficar, embora muito ainda deva ser feito para a recuperação das perdas ocorridas.
Para os entrevistados, é fundamental que se faça, doravante, uma correcta avaliação e valorização das conquistas alcançadas, encorajando, por isso, o empenho de toda a sociedade angolana na defesa dos fundamentos da paz e da reconciliação.
Os jovens ouvidos pela ANGOP consideram fundamental que a sociedade faça uma correcta avaliação e valorização das conquistas alcançadas em tempos de paz, abstendo-se de práticas que possam abalar os fundamentos da reconciliação nacional.
Segundo o funcionário público João Armindo, 37 anos, é necessário reconhecer que, em muitos casos, os jovens angolanos “não têm sabido preservar grande parte das conquistas alcançadas em tempo de paz”.
Como exemplo, aponta a vandalização dos bens públicos, pelo que chama a atenção da sociedade para a necessidade de mudança de comportamento.
“Todos os gestos do Executivo, pelos seus parceiros e através de iniciativas de entes privados, em nome do crescimento e desenvolvimento de Angola, devem ser sempre valorizados", defende o funcionário público.
Do seu ponto de vista, mais do que reivindicar e apontar defeitos, é preciso que os jovens angolanos saibam valorizar as conquistas e as realizações do Governo, conquanto ainda sejam evidentes as carências nas famílias, em termos sociais e económicos.
Já Manuela Alfredo, estudante de Direito, diz serem notórios os avanços que o país tem em tempo de paz, ideia reforçada por Domingos Filipe, para quem o passado de guerra foi doloroso, de angústias e sofrimento para os angolanos.
“Hoje, o compromisso dos angolanos é tudo fazerem para evitar, em definitivo, o regresso daquela nuvem escura e tenebrosa que se abateu sobre o país por quase três décadas”, expressa Domingos Filipe.
O cidadão testemunha que a paz permitiu a reconstrução de infra-estruturas destruídas durante o conflito armado, importantes investimentos nas vias de comunicação rodoviárias e ferroviárias, em portos e aeroportos, para além da construção de habitações, estabelecimentos de ensino e unidades hospitalares de diferentes categorias.
Para o docente universitário Honorato Domingos, 39 anos, os ganhos da paz são visíveis, apesar de algumas dificuldades. “Registámos avanços significativos no domínio do combate à corrupção e da melhoria do ambiente de negócios”, enfatiza, tendo-se referido, igualmente, às acções em curso para se acelerar a diversificação da economia.
Na sua opinião, a diversificação da economia teria atingido já outros patamares se não surgisse a Covid-19, que tem condicionado vários programas e projectos.
Em declarações à Televisão Pública de Angola (TPA), o cidadão Malua dos Santos considera necessário que se respeitem os órgãos de soberania e se preserve a paz conquistada pelos angolanos.
“Os angolanos querem ver estas conquistas preservadas e consolidadas, o que só é possível se formos capazes de preservar e consolidar a segunda maior conquista depois da nossa Independência, a Paz e a Reconciliação Nacional”, afirma.
Em contrapartida, a secretária-geral do Conselho das Igrejas Cristãs em Angola (CICA), Deolinda Teca, também considera necessário que o povo angolano preserve a paz alcançada, pois sem a qual ninguém seria feliz e a Nação não desenvolveria.
A religiosa apela aos angolanos, em particular aos políticos, para dialogarem continuamente, a fim de manterem a paz conquistada com muito sacrifício.
A responsável frisa ser dever das instituições religiosas olhar para a preservação da paz, exortando a sociedade, em geral, e a juventude, em particular, a primar pela paz e pela reconciliação nacional, deixando as ondas de vandalismo.