Luanda - A Diabetes Mellitus (DM) continua a ser uma das doenças que mais progride, nos últimos anos, em Angola, onde se estima o registo de pelo menos 1,6 milhão de diabéticos, de acordo com dados recentes divulgados pelas autoridades angolanas.
Por Ângela Correia Neto
Conhecida pelo seu carácter silencioso, a enfermidade já representa questão de saúde pública no país, com um peso considerável na taxa de ocupação dos leitos hospitalares.
Trata-se, em concreto, de uma doença crónica que se caracteriza pelo aumento dos níveis de açúcar (glicose) no sangue, cujos números estão longe de ser animadores em Angola.
No país, os desafios do combate a Diabetes afiguram-se difíceis, principalmente por causa do reduzido número de unidades primárias de saúde especializadas no rastreio e diagnóstico precoce de doentes, o que condiciona, sobremaneira, a estratégia do Governo.
Na verdade, trata-se de um problema que afecta mais de 425 milhões de pessoas no mundo, onde se prevê, até 2045, a existência de pelo 629 milhões de diabéticos diagnosticados.
No caso particular de Angola, a questão torna-se mais complexa, na medida em que o elevado número de doentes tem estado associado a complicações graves, como a cegueira, amputação dos membros inferiores, enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e insuficiência renal, exigindo, por isso, políticas de prevenção mais eficazes.
É certo que, nos últimos anos, o Executivo tem implementado medidas de prevenção da Diabetes, com destaque para a inclusão da doença no Plano de Desenvolvimento Nacional para o período 2018-2022, a fim de diminuir o impacto da mesma nas comunidades.
No quadro dessa estratégia, as autoridades estabelecem como meta que 50 por cento das unidades sanitárias, a nível primário, venham a dispor de condições mínimas para o rastreio do diagnóstico e tratamento, desejo que, infelizmente, ainda não "saiu do papel".
Em termos concretos, isso representaria um grande passo na estratégia de prevenção e combate da Diabetes em Angola, embora um olhar rápido à realidade actual demonstra, claramente, que a luta para se materializar esse desiderato ainda é bastante dura.
A realidade concreta demonstra que o país ainda está longe de atingir a meta de realizar diagnósticos precoces em 50 por cento das unidades de cuidados primários de saúde, apesar do reforço dos investimentos do Executivo, nos últimos anos, no domínio da Saúde.
Entretanto, há que reconhecer que a implementação desta medida seria um passo fulcral para a redução da incidência da prevalência da mortalidade e das complicações resultantes da diabetes, e, consequentemente, na diminuição da demanda aos serviços de saúde.
Porém, é fundamental que as autoridades levem em conta o facto de, em Angola, a doença ser ainda pouco conhecida e haver falta de cultura do rastreio na maioria das famílias, o que leva muitos pacientes a serem diagnosticados em fase avançada da doença.
Na verdade, a Diabetes ainda não está entre as quatro principais causas de morte em Angola (malária, acidentes de viação, tuberculose e HIV Sida), mas não restam dúvidas de que a sua progressão exige respostas rápidas e adequadas, a curto e médio prazos.
Portanto, Angola deve continuar a lutar para aumentar o investimento na Saúde, em geral, e no combate a Diabetes, em particular, sobretudo na questão da prevenção e do rastreio precoce, bem como trabalhar para baixar as taxas de importação dos fármacos essenciais.
O problema do acesso à medicação, particularmente à insulina, deve continuar a constar, de forma imperiosa, na estratégia de médio prazo do Governo, pelo facto de muitos diabéticos não disporem de condições objectivas para fazer face aos custos do tratamento.
Por isso, Angola precisa de aumentar as unidades primárias de saúde com valências técnicas e humanas para diagnosticar casos precoces de diabetes, a fim de se fazer reduzir, rapidamente, as complicações derivadas desse mal que se prolifera por toda África.
Estimativas indicam que, só no continente africano, existem pelo menos 14.2 milhões de pessoas com Diabetes, sendo que 67% dos casos ainda não foram diagnosticados.
Conforme os dados disponíveis, a taxa de prevalência da Diabetes na população adulta em África mais do que duplicou em 34 anos, passando de 3,1%, em 1980, para 7%, em 2014.
As estimativas da OMS apontam para um aumento de 162%, até 2030, em África.
A nível global, a OMS avança que a hiperglicemia provoca 5% das mortes nas mulheres e 3,9% nos homens. A prevalência dos factores de risco do diabetes e de outras doenças não transmissíveis é mais elevada nas mulheres do que nos homens.
Estudos indicam que aproximadamente 50,0% dos diabéticos desconhece ser portador da doença, que poderá de ser, até 2030, a sétima principal causa de morte no mundo.
Olhando para esses números globais, fica fácil perceber que, para se reduzir a prevalência, sobretudo da Diabetes tipo 2, em Angola, é preciso uma abordagem global e permanente, que comece na primeira infância e prossiga até à adolescência e à idade adulta.
É fundamental que se aumentem as campanhas de educação alimentar das famílias, mostrando, claramente, os riscos do consumo excessivo de produtos que podem vir, a longo prazo, a constitui-se em factores desestabilizadores dos níveis de açúcar no sangue.
Também é imperioso que se facilite o acesso às insulinas, essenciais para a estabilização dos pacientes e da doença, que, apesar de não ser transmissível, pode se afigurar letal.
É fundamental que, na estratégia de combate e controlo da doença, o país venha a investir sério na construção de mais laboratórios de rastreio, para se fazer o diagnóstico rápido.
De igual modo, torna-se importante o aumento da informação sobre a doença e da noção de doença crónica, pelo doente e pelos seus familiares.
Portanto, para que toda a estratégia do Governo funcione, de forma plena, impõe-se o aumento da oferta e a redução da burocracia no acesso à insulina, bem como a contínua redução dos preços desse fármaco e seus associados essenciais para o auto controlo.
Sendo quase certo que a Diabetes vai continuar a ganhar terreno e aumentar o “raio” das vítimas, muitas delas mortais, é hora de a sociedade passar a olhar para a doença com outros olhos, melhorando os hábitos alimentares e fazendo recurso regular à prática de exercícios físicos, como forma de se reduzir o índice de crescimento da taxa de doentes.
Essa luta não pode ser exclusiva do Governo, que não pode, nem deve, negligenciar a questão da Diabetes, pelo que as medidas de prevenção, fundamentalmente o rastreio precoce, devem ser uma preocupação constante de todos, ou seja, dirigentes e governados.
A hora é de trabalhar em prol do combate serrado à Diabete, um mal que cresce em ritmo acelerado, fazendo milhares de vítimas pelo mundo. Ninguém sabe quem será a próxima.