Luena – A incidência da diabetes adquirida (tipo II) na população do Moxico diminuiu ligeiramente, sendo que cinco pacientes foram diagnosticados com a doença em cada 250 utentes que ocorrem às consultas no Hospital Geral, principal unidade sanitária da província.
A província do Moxico está a registar casos consideráveis de diabetes do tipo II, a adquirida por via de maus hábitos dietéticos, ao contrário da diabetes do tipo I ou hereditária e da gestacional (que molesta mulheres grávidas).
Numa altura em que se comemora o Dia Mundial da Diabetes (14 de Novembro), o grau de infecção dessa doença crónica no Moxico ainda é preocupante, apesar da diminuição ligeira de casos no Hospital Geral.
Só até Outubro de 2022 a diabetes do tipo II levou a morte 11 pacientes, contra 14 óbitos de 2021, em 93 doentes internados no Hospital Geral do Moxico (HGM).
Com a média de internamento de 95 pacientes por ano, no HGM, a diabetes do tipo II está a “atacar”pessoas da faixa etária acima dos 36 anos em diante.
Ainda assim, quando comparado ao paludismo e aos acidentes de viação, primeira e segunda causas de mortes em Angola, o grau da morbi-mortalidade por diabetes é “muito baixa”, segundo o médico Hermenegildo Casseheha, do HGM.
Em declarações à ANGOP, para falar sobre a morbi-mortalidade da diabetes, em alusão ao Dia Mundial da pandemia, Hermenegildo Cassehela disse que o HGM recebe pacientes com complicações agudas.
“São pacientes que num minuto estão bom e no outro já não respondem, caem em coma e praticamente não conseguem responder aos estímulos”, lamenta o médico clínico.
Explicou que as complicações, na maioria das vezes, aparecem quando a glicemia sobe de forma brusca sob desconhecimento do paciente.
"Neste momento não temos na província, um especialista em endocrinologia, porque esses são pacientes de endocrinologia, mas também são pacientes conjuntos por isso são assistidos na medicina interna”, explicou.
A diabetes e a prevenção
O quadro clínico (sinais e sintomas) é caracterizado por sede anormal e boca seca, perda súbita de peso, micção frequente, fome constante, visão desfocada, falta de energia, cansaço, incontinência noturna, formigueiro ou dormência nas mãos e nos pés, aumento da incidência de infeções cutâneas, cicatrização lenta de feridas, entre outras.
O médico Hermenegildo Cassehela disse que, para se evitar contrair a doença, é preciso optar pela mudança do estilo, sendo fundamental afastar-se do consumo de bebidas alcoólicas, alimentos com maior teor de gordura e optar por actividades físicas.
Um caso raro na Maternidade do Moxico
O diagnóstico de casos de diabetes gestacional ainda continua raro na Maternidade Provincial do Moxico, visto que nos últimos três anos registou uma ocorrência.
Segundo o director clínico da Maternidade Provincial do Moxico, Idanilson Malassa, o aludido caso foi diagnosticado antes do início da pandemia da Covid-19.
“A paciente foi seguida por consulta externa e diagnosticada simplesmente no sétimo mês da gravidez. Ela fez um transtorno de diabetes gestacional, chegou ao oitavo mês, deram seguimento, mas infelizmente teve uma complicação, a macrossomia fetal, também conhecida de feto grande que pesa acima de quatro quilos”, explicou à ANGOP.
Naquela altura, esclareceu, sugeriram à paciente que fizesse uma cesariana, mas a família não aceitou, porque a mãe disse que a gestante já tinha um historial de ter filhos acima de quatro quilos à nascença.
“Mas infelizmente o bebé não sobreviveu, fez uma distorcia de ombros e já veio nado morto”, lamentou o médico Idanilson.
Recomendou que um paciente com diabetes deve ser atendido por uma equipa multidisciplinar, desde médico internista, gineco-obstetra, nutricionista e um psicólogo, “mas infelizmente a unidade não tem essa equipa formada por défice de pessoal”.
Doentes de diabetes alertam perigo
O paciente José Ernesto Firmino foi-lhe diagnosticada a diabetes do tipo II há três anos e alerta sobre a impaciência de se ter que tomar elevadas quantidades de medicamentos ou injeções quase sempre.
“A doença é complicada. Quando sobe o açúcar, a pessoa apanha recaída e tem que voltar sempre ao hospital. Felizmente somos bem atendidos, mas não é cordial toda a hora ter que ir ao hospital”, afirmou.
Outra “tarefa” difícil descrita por José Firmino é o facto de se ter que educar a família para cuidarem bem e de forma metódica a sua alimentação e evitar falhas recaídas, um exercício difícil.
“Não se pode usar muito óleo, sal e açúcares, porque se violar a lei, a pessoa não sobrevive por muito tempo”, alertou José Firmino, internado no HGM há quatro dias.
Apelou à população evitar o consumo de bebidas alcoólicas por conter o açúcar queimado, podendo causar diabetes.
Já Maria Julia Muconda descobriu que sofre de diabetes adquirida há dias, embora tenha desenvolvido sintomas há seis meses que os caracterizou de passar “a noite a mijar nove a dez micções, bebo muita água por dia, quase três a quatro litros”.
Depois de “alguma mudança no organismo”, causando-lhe um mal estar teve de ir ao Hospital Geral do Moxico, onde recebeu “a triste notícia” de possuir diabetes e, imediatamente, internada.
“Vão ao hospital logo no primeiro sintoma, deixem de raízes”, apelou, desencorajando doentes com os mesmos sinais e sintomas, mas preferem o tratamento tradicional.
Em Angola, a diabete é um problema de saúde pública por ter um peso enorme em termos de ocupação de camas nos hospitais, estimando-se que cerca de seis por cento da população é afectada por essa doença crónica.
O dia 14 de Novembro é celebrado pela Federação Internacional de Diabetes (IDF: International Diabetes Federation) e pela Organização Mundial de Saúde como Dia Mundial de Diabetes (Não seria epidemia/para não repetirmos a palavra Diabetes?).
O objectivo deste dia é chamar a atenção dos cidadãos e governantes para a problemática da diabetes. A data foi escolhida por ser o aniversário de Frederick Banting, o médico canadiano que, juntamente com o seu colega Charles Best, conduziu as experiências que levaram à descoberta da insulina em 1921.