Luanda - Sorridentes e com olhares aparentemente tranquilos, milhares de profissionais de saúde receberam, neste sábado, na capital do país, a primeira dose da vacina contra a Covid-19, que consideram um marco na sua trajectória.
Habituados a diagnosticar doenças e tratar de pacientes, os chamados profissionais da "linha da frente" dizem que aguardaram com grande expectativa por este momento.
Expostos diariamente a riscos de contágio nas diferentes unidades sanitárias do país, médicos, enfermeiros e pessoal de apoio deste importante sector saíram em massa em busca da "vacina milagrosa".
A médica Cesaltina Costa, 64 anos de idade, foi uma das milhares de profissionais que acorreram ao Pavilhão do Kilamba em busca de uma dose vacinal que pode ser sinónimo de "salvação" no combate à Covid-19.
"Para mim é gratificante estar aqui e ser vacinada. Estou agora mais prevenida para cuidar dos pacientes, porque, numa primeira fase, quase ninguém quer tratar um doente com Covid-19, por causa do medo de contrair o vírus. Agora, com a vacina, os medos vão diminuir", exprimiu.
A vacinação ocorre numa altura em que o país se prepara para assinalar um ano desde o diagnóstico do primeiro caso positivo, a 21 de Março de 2020.
Para o sucesso da campanha de vacinação é fundamental imunizar os profissionais da linha da frente, ou seja, aqueles a quem se deu a missão de curar e salvar vidas.
Acostumado a manusear seringas e agulhas, Belmiro Rosa, director da Clínica Multiperfil, viveu hoje um dia de paciente e, como os colegas, aderiu à dose vacinal.
"A vacina, além das medidas de biossegurança, é o meio mais seguro de protecção", referiu o profissional de gastroenterologia (especialidade médica que se ocupa do estudo, diagnóstico e tratamento clínico das doenças do aparelho digestivo).
Conforme o médico, o processo de vacinação foi ser rápido e organizado, fundamentalmente porque os colegas cumpriram com os procedimentos.
O médico alerta que, apesar de não ter até ao momento nenhum sintoma colateral, é normal algumas pessoas sentirem dores de cabeça, dores muscular ou febre ligeira, dependendo de cada organismo.
"Não sinto absolutamente nada, mas como médico deixa explicar às pessoas que é normal, em qualquer outro tipo de vacina, algumas pessoas sentirem dores de cabeça, muscular ou terem algum quadro febril. Nesta também pode ocorrer em algumas pessoas, dependendo do organismo de cada uma", explicou.
Já o director clínico do Hospital Sanatório de Luanda, Carlos Alberto Masseca, disse que o processo de vacinação correu sem qualquer problema e que os profissionais de saúde responderam de forma satisfatória à vacina.
"Não tivemos qualquer constrangimento com as vacinas, todos que já fomos administrados estamos bem e satisfeitos com o trabalho", expressou.
No seu entender, apanhar a vacina para os profissionais deve ser uma obrigação cívica porque são eles que cuidam dos outros.
"Para nós, profissionais de saúde, é uma obrigação cívica, porque tratamos das pessoas. Não podemos ser fontes de transmissão de outras doenças, principalmente da Covid-19", vincou.
Adolfo Sampaio, médico de 66 anos de idade, disse que a sensação depois de apanhar a vacina é de alívio, porque ficaram muito tempo à espera das mesmas.
"Surgiu a oportunidade de nos prevenirmos contra o vírus, então devemos abraçar. Tenho a sensação de alívio em saber que, por mais que apanhe o vírus, ele já não terá o curso normal que tem feito nas pessoas não imunizadas", afirmou.
O médico acrescenta ser necessário que as pessoas se informem bem, porque só uma boa informação pode eliminar qualquer dúvidas em relação às vacinas.
"É normal que as pessoas tenham receio de apanhar as vacinas, por isso peço e aconselho-as a informarem-se bem e saberem o quanto é importante apanhar a vacina para se protegerem", reforçou.
A campanha em Luanda seguirá com os profissionais de saúde, polícias, professores, e pessoas idosas.
Depois de Luanda, a mesma deve decorrer nas províncias de Cabinda e Benguela.
O processo de vacinação gizado pelo Executivo abrange, numa primeira fase, 20 por cento da população angolana, totalizando 6.419.534 de pessoas com exposição contínua, como os profissionais de saúde, de serviços sociais e da ordem e segurança pública, pessoas com morbidades de risco e de idade igual ou superior a 40 anos.
Angola recebeu, na terça-feira, 624 mil doses de vacina contra a Covid-19, no quadro da Iniciativa Covax.
No total, estão previstos serem vacinados 52 por cento da população, um total de 16.823.284 de cidadãos maiores de 16 anos.
O país prevê receber, até ao final de Junho, 6.4 milhões de doses da AstraZeneca ou outras disponíveis para cobrir as necessidades da primeira etapa do Plano de Vacinação contra a Covid-19.
A vacina Astrazneka, de fabrico indiano, é uma das três mais utilizadas no Mundo, para prevenir casos de infecção, tendo uma eficácia científica de quase 90 por cento.
O Governo angolano está a trabalhar com a iniciativa Covax, formada pela Aliança Global para Vacinas e Imunização, Organização Mundial de Saúde (OMS) e Coligação de Inovações na Preparação para as Epidemias (CEPI), a fim de garantir que o país tenha acesso às vacinas.
No quadro do combate e prevenção contra a Covid-19, o governo angolano desembolsou trinta e dois mil milhões de kwanzas.
O país obteve, igualmente, o apoio das agências das Nações Unidas, avaliado em 6.2 milhões de dólares em reagentes e material de biossegurança.