Luanda - O diagnóstico precoce da endometriose evita que a doença comprometa a fertilidade e sobretudo algum órgão alertou hoje, terça-feira, em Luanda, o médico de ginecologia e obstetrícia Mário Bundo.
Endometriose é uma modificação no funcionamento normal do organismo em que as células do tecido que reveste o útero (endométrio), em vez de serem expulsas durante a menstruação, se movimentam no sentido oposto e caem nos ovários ou na cavidade abdominal, onde voltam a multiplicar-se e a sangrar.
Frisou que o diagnóstico é feito no consultório através da história clínica da paciente, dos sintomas relatados e dos exames de toque vaginal, retal e de abdomem, a partir do qual é possível fazer o mapeamento da doença, saber em que grau está e se está acometendo algum órgão vizinho.
Explicou que para isso é feito uma ressonância magnética e a ultrassonografia com preparo intestinal, garantindo que as mulheres com a endometriose e que fazem o tratamento adequado, melhoram gradualmente as chances de engravidar, porém em alguns casos o acompanhamento implica a realização de cirurgias complexas.
O especialista, que falava à Angop a propósito do dia internacional da luta contra a endometriose (7 de Maio), reforçou que a doença pode afectar vários órgãos como intestino, bexiga, nervo hipogástrico e raízes sacrais.
Acrescentou que quando não diagnosticada em estágios iniciais, sintomas associados à patologia, como dor pélvica e durante a relação sexual, tende a ser persistente, causando um impacto significativo na qualidade de vida da paciente.
Explicou que endometriose tem um impacto múltiplo, pois reduz a qualidade de vida das mulheres devido a dor severa, fadiga, depressão, ansiedade, absentismo escolar, laboral e problemas na vida sexual.
Sobre a doença
A endometriose é uma doença caracterizada do tecido similar ao do endométrio fora da cavidade uterina, e pode localizar-se nos ovários, trompas, cavidade abdominal, vagina, bexiga, útero e pulmões.
De acordo com Mario Bundo, não existe uma prevenção primária por se desconhecer a causa, mas o diagnóstico precoce continua a ser a chave para evitar a longa progressão da doença e o impacto a longo prazo.
Adiantou que algumas medidas como a alimentação que tenha acção anti-inflamatória ou exercícios físicos leves e moderados, podem ajudar a mitigar as manifestações clínicas.
Realçou que existe uma grande correlação entre a endometriose e a infertilidade, uma vez que 30 a 40 por cento das mulheres com esta patologia são inférteis, e isso se deve à obstrução da anatomia que pode cursar com aderências a factores imunológicos e hormonais.
Fez saber que a endometriose mesmo na forma leve pode causar disfunções na ovulação, pelo que o seguimento dessas pacientes deve ser multidisciplinar envolvendo ginecologistas, urologistas, cirurgiões, psicólogos e nutricionistas.
Calcula-se que, em todo o mundo, 190 milhões de mulheres em idade reprodutiva sofram com a endometriose que é crônica e baseada em dois pilares: um inflamatório e outro hormonal.
Algumas pacientes, acrescentou, são assintomáticas, mas o sintoma principal é a dor durante a menstruação, após ou durante o sexo, ao urinar ou defecar.
Entre as manifestações encontra-se nomeadamente o sangramento intenso, durante ou entre as menstruações, dificuldades para engravidar, flatulências ou náuseas, fadiga e em certos casos depressão e ansiedade.
Avançou que vários estudos reportaram longos atrasos de diagnóstico universalmente, em média entre 7 a 9 anos, mas muitas mulheres levam cerca de 22 anos para a descoberta da doença.
A endometriose não tem cura e o tratamento actual baseia-se no controle da dor e no bloqueio da produção do hormônio.
Visão da associação de apoio a mulheres com endometriose
Para a presidente da associação de apoio às mulheres com endometriose, Cecília Henriques há toda uma necessidade de se melhorar o sistema nacional de saúde e a informação que a população tem sobre a doença, bem como se trabalhar no humanismo e empatia por parte da sociedade.
Fez saber que são várias vezes em que as cólicas menstruais de muitas mulheres são consideradas normais, fazendo com que o seu diagnóstico seja tardio e em alguns casos só descoberto após uma cirurgia.
“Se actualmente a OMS diz que a média das mulheres só tem o diagnóstico após nove anos, muitas mulheres angolanas só descobrem após 20 ou 26 anos", lamentou.
Entretanto, salientou que o foco da associação e a linha de combate para melhorar o atendimento a essas mulheres é primar pela humanização e especialização da classe médica para o conhecimento da endometriose.
A associação tem como objectivo fundamental consciencializar e divulgar a existência da endometriose e apoiar a reabilitação física e psicológica das mulheres e das famílias através da informação e cooperação directa.
Actualmente na associação estão envolvidos 96 pessoas. EVC/PA