Luena - As casas mortuárias (Morgues) dos hospitais da província do Moxico estão super lotadas e sem espaço para novos cadáveres devido a morosidade das famílias na realização dos funerais, denunciaram, esta sexta-feira, as direcções dos hospitais de referências.
Segundo constatou à ANGOP, no Luena, as enchentes nas morgues estão a causar revolta entre os utentes com entes falecidos e que queiram conservar os cadáveres, acusando as direcções dos hospitais de estarem a negar a recepção dos corpos por negligência.
A reportagem da ANGOP verificou cenários de famílias que estão a regressar com os corpos dos hospitais para as suas casas ou, nalguns casos, procuram outras unidades sanitárias sem pressão.
Na cidade do Luena existem três morgues, nomeadamente na Maternidade Provincial do Moxico, com 12 gavetas, Hospital Municipal 24 e Hospital Geral do Moxico, com 10 lugares cada, estando nesse momento com lotação esgotada.
A morgue do Hospital Geral ficou reservada para óbitos de cadáveres resultantes ou associados a Covid-19, que, nos últimos meses, causou a morte de 34 pessoas.
O responsável da morgue da Maternidade Provincial, Fernando João Cameia, disse que a direcção estipulou 72 horas (três dias) para que as famílias façam o funeral dos seus entes queridos, mas a população nem sempre cumpre.
“Há corpos estão há uma semana na morgue, dificultando os outros familiares”, denunciou.
No Hospital Municipal do Moxico (sede provincial) vive-se a mesma situação. Segundo a sua directora Jorgina Muhunga, das 24 gavetas existentes na morgue, 17 estão ocupadas por cadáveres levados por efectivo do Serviço de Identificação Criminal (SIC).
Informou que tratando-se de mortes extra-hospitalares, com os cadáveres a virem dos municípios do interior, igrejas e curandeiros, “o que é muito preocupante”, o seu enterro leva muito tempo.
Desencorajou a cultura das famílias levarem familiares doentes nos curandeiros, chegando mesmo a fugirem com pacientes do hospital, pois muitas mortes fora das unidades sanitárias ocorrem por negligência das famílias e dos alegados terapeutas tradicionais.
Já o director clínico do Hospital Geral do Moxico, Benjamim Herculano, lamentou o facto de as famílias continuarem a rejeitar o diagnóstico médico, sobretudo quando se trata de Covid-19.
“Quando se trata de Covid-19, os familiares tiram a força os pacientes do hospital e levam-no a lugares incertos, contribuindo no aumento da morbi-mortalidade pela pandemia”, lamentou.
Em termos epidemiológico, a província tem 832 casos positivos, dos quais 170 activos, 628 recuperados e 34 óbitos.
