Benguela – 404 anos de altos e baixos

     Sociedade           
  • Benguela     Segunda, 17 Maio De 2021    15h46  
Pormenor da cidade de Benguela (Arquivo)
Pormenor da cidade de Benguela (Arquivo)
Pedro Parente

Benguela - Com mais de quatro séculos de história, a cidade de Benguela completa hoje, 17 de Maio, 404 anos, numa altura em que a imparável degradação das vias e ruas emblemáticas contrasta com a encantadora imagem de outros tempos.

Limpa, arborizada de lés-a-lés e encantadora aos olhos dos forasteiros. Era assim Benguela, até aos tempos que se seguiram à Independência Nacional de 11 de Novembro de 1975. Porém, hoje em dia uma grande parte da cidade “parou no tempo”.

Com uma posição geográfica estratégica, no centro litoral de Angola, e mais de 561 mil habitantes, Benguela é o município mais populoso da província homónima, de que é capital. Tem sido destino dos empresários para investimento, atraídos pelas vantagens em logística e pelo potencial na área do agronegócio.

Terra de oportunidades, devido ao grande potencial na agricultura, pescas e indústria, Benguela enfrenta, actualmente, desafios gigantescos. Além da rede viária a “rebentar pelas costuras”, ante o aumento do número de veículos e a expansão da cidade, está o débil saneamento e a distribuição de água e electricidade.

Muito mudou em 19 anos de paz em Angola. A cidade de Benguela foi palco de muitos investimentos públicos e privados em infra-estruturas. E os sinais do progresso não tardaram a surgir, principalmente nos sectores da educação, saúde, vias de comunicação, hotelaria e turismo, habitação, pescas e indústria.  

Com a construção e reabilitação de dezenas de escolas em todos os subsistemas de ensino, com destaque para novos institutos politécnicos médios e superiores, hospitais, mercados, hotéis, iluminação pública e novas estradas, Benguela tornar-se-ia num lugar bom para se viver e pólo turístico importante.

O Estádio Nacional de Ombaka, com 35 mil lugares, é outro exemplo desses investimentos, até antes da eclosão da crise económica e financeira, em 2014. Nos últimos anos, realce ainda para novas urbanizações, sobretudo no bairro satélite da Graça, e no do 70, que mudaram radicalmente a imagem da periferia.

E o Benfica, um dos primeiros bairros a emergir à volta da cidade de Ombaka e eternizado no poema “Meu Amor da Rua 11”, de Aíres de Almeida, é parte dessa transformação, traduzida, no fundo, em ruas asfaltadas, rede de esgotos e iluminação pública, resultando em mais segurança e conforto para os moradores.

Contudo, o progresso da cidade encolheu com a brutal crise económica. E, hoje, Benguela degrada-se pouco a pouco. Estradas, avenidas, ruas, prédios, jardins, incluindo edifícios históricos, como o Museu Nacional de Arqueologia, os cines Monumental e Benguela, e o porta-aviões na Praia Morena.

Tirando o Jardim da República, um dos mais bem tratados da cidade, depois de restaurado, este ano, por um empresário local, outros jardins da capital benguelense, como o municipal, vulgo milionário, Deolinda Rodrigues, Largo da Peça ou da Juventude, são utilizados como local de venda ou por lavadores de carros, o que ofusca a sua beleza.

A rápida degradação da Serpa Pinto, principal via de escoamento dos veículos pesados de mercadorias do Sul ao Norte do país, através da Estrada Nacional EN100, é um dos principais contrastes na urbe, com os automobilistas, já desgastados, a exigirem das autoridades uma intervenção urgente, para se livrarem dos intermináveis e incómodos buracos.

A praia Morena, principal postal da cidade, não resistiu à falta de manutenção, desde 2009. Por isso, a degradação foi inevitável. Para mudar o cenário, estão já em curso obras de restauro dos acessos, rede de esgoto e drenagem, assentos, postes de iluminação pública e modernização dos quiosques, para devolver a mística do passado ao local.

Com efeito, o vice-governador provincial de Benguela para os Serviços Técnicos e Infra-estruturas, Adilson Gonçalves, fala de uma vasta gama de obras em marcha no sentido de melhorar a paisagem do aspecto em alguns lugares degradados da velha cidade de Ombaka, tendo como pano de fundo a melhoria do saneamento básico.

Sobre a reabilitação da rua Serpa Pinto, que tira o sono aos automobilistas e às autoridades locais, o vice-governador diz estar a ser analisado com o governo central alguma intervenção mais profunda e, nomeadamente, a drenagem e a aplicação do asfalto.

Além disso, adiantou estar em carteira a reabilitação das vias de entrada e saída da cidade de Benguela (EN 100), que terão novo tapete asfáltico.

Tudo por Benguela

“Benguela está firme e continua a lutar para satisfação das necessidades da população”, salienta, optimista em melhores dias, Adelta Matias Sifi, a actual administradora do município de Benguela. Por sinal, a primeira mulher a liderar a histórica circunscrição desde que foi fundada, há exactos 404 anos, por Manuel Cerveira Pereira.

Na lista de prioridades, a responsável aponta não só a necessidade de uma “intervenção profunda” no degradado troço da Serpa Pinto, destinado à circulação de automóveis pesados, mas as vias secundárias e terciárias, incluindo o saneamento básico, para melhorar a mobilidade dos automobilistas e a qualidade de vida dos munícipes.

Relativamente ao saneamento básico, explica que os meios entregues pelo governo provincial de Benguela têm permitindo intervenções pontuais nos pontos críticos da cidade e bairros, o que ajuda a mudar o actual cenário.

A administradora olha, de igual forma, para a recuperação dos espaços verdes como outro importante desafio das autoridades, no intuito de resgatar a mística dos tempos áureos, em que Benguela era conhecida como cidade arborizada.

Adelta Matias Sifi ainda inclui o ordenamento do território do município de Benguela, através do loteamento de terrenos para promover uma construção ordenada por parte da população ávida em ter casa própria.

Sobre a situação de penúria por que passam muitas famílias, a administradora reconhece o problema e afirma que, com a implementação do programa de combate à pobreza, têm sido distribuídos kit´s de emprego nas áreas de comércio, agricultura e pescas aos ex-militares, para sua reintegração sócio-produtiva.

Por outro lado, admite o momento menos bom que a cidade vive em tempos de crise económica e pandémica, mas afiança que há grande vontade de fazer muito mais pela região, embora, como fez crer, a escassez de recursos financeiros para dar respostas às necessidades seja uma das maiores “pedras no sapato” do executivo municipal.

Com um livro com mais de 300 páginas sobre a História de Benguela engavetado, por falta de financiamento, Joaquim Grilo mostra-se agastado com o estado actual da cidade e avisa que, aos poucos, o antigo estatuto de cidade das acácias vai ficando no “museu”, em detrimento do Luena, na província do Moxico.

Ainda assim, acredita que é possível reverter o actual cenário, desde que se faça um plano sério de arborização das avenidas e ruas com as acácias vermelhas, que sempre caracterizam a cidade de Benguela.

O empresário Adérito Areias, que reabilitou o Jardim da República, reconhece as dificuldades da actual conjuntura, mas pede a união de todos os benguelenses para a superação dos novos desafios.

Para ele, com trabalho, unidade, disciplina e valorização do capital humano formado nas universidades locais, será possível desenvolver Benguela, tal como aconteceu no passado.

404 anos de história

Foi a 17 de Maio de 1617 que Manuel Cerveira Pereira, numa frota de quatro navios e um patacho, chegou à Baía de Santo António, onde foi situada a cidade que o conquistador português pôs o nome de São Filipe. Nesse mesmo ano, Cerveira Pereira tornou-se no primeiro governador de Benguela.

A densidade populacional inicial era de cerca de 130 homens. Mas, devido ao paludismo, originado com a presença de pântanos, em Março de 1618, em São Filipe, havia apenas 10 brancos, dentre oficiais, clérigos e soldados, bem como 80 nativos subalternos.

Em 1622, chegaram 70 soldados da metrópole. Tendo os progressos de São Filipe começados com o crescimento da urbe a pau a pique, a adobe, exploração do sal, o comércio de escravos e dos produtos primitivos.

Contudo, a história da cidade remota por volta de 1601, altura em que desembarcaram os primeiros portugueses na chamada Baía das Torres, uma denominação atribuída por causa da configuração do actual Morro do Sombreiro que fica a Sudoeste da localidade ou ainda a Baía das Vacas, tendo em conta a riqueza pecuária.

Entretanto, o Aeroporto 17 de Setembro é prova da determinação do povo de Benguela. Naquele tempo, a população da cidade arregaçou as mangas e, foi assim, que até mesmo de bicicleta, cada qual transportou um tijolo para o local, onde actualmente está o aeródromo.

A cidade de Benguela tem também a particularidade de ser bem conhecida e apetecida pelas suas maravilhosas praias que se distinguem pela sua beleza natural destaque, com realce para a Morena, “Pequeno Brasil", "Santo António", "Caotinha" e "Baia Azul", que encantam quem as visita.

O potencial piscatório da cidade de Benguela atraiu também outra leva de gentes, idas de Cabo Verde. Exemplo disso é o bairro da Massangarala, enquanto indivíduos idos do interior da província fundaram o bairro da Camunda, nas imediações do Cemitério Velho e, assim, a cidade foi crescendo até aos nossos dias.

Esta cidade foi a pioneira da Rádio em Angola e um forte centro da Religiosidade Nacional, tendo primeiro começado a Católica, com a construção por volta de 1672 de uma igreja, denominada Nossa Senhora do Pópulo, cujas obras terão terminado em 1748.

A limitar as comemorações dos 404 anos da cidade de Benguela está, claramente, a Covid-19, e a brutal crise económica. Não obstante, as autoridades trabalham de tal sorte que a cidade volte a ser referência obrigatória a nível nacional.





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