Benguela– Quatro séculos depois da sua fundação, no remoto ano de 1617, Benguela, uma das cidades mais lindas de Angola, tenta transformar em realidade o sonho do progresso, há muito almejado pelas autoridades e habitantes de mãos dadas com o futuro.
Fundada no dia 17 de Maio de 1617, pelo conquistador português Manuel Cerveira Pereira, ainda hoje Benguela mantém os traços da arquitectura colonial, com monumentos muito antigos que resistem ao tempo e às marcas indeléveis da guerra, que, entretanto, ficou para trás.
A sua privilegiada localização, no centro litoral de Angola, atrai turistas e homens de negócios, incapazes de resistir aos encantos inigualáveis das suas praias paradisíacas, entre as quais a Morena, Santo António e Caotinha, um pouco a Sul da plácida cidade de Ombaka, que serve de lar para mais de 623 mil habitantes.
Após anos de estagnação, esta belíssima cidade da sui generis Acácias Rubras, de longa e fascinante história, e onde o turismo e a cultura casam na perfeição, conhece agora uma nova dinâmica, fruto das obras integradas que prometem mudar e transformar Benguela numa terra do futuro.
Atacar o crónico problema da degradação das vias rodoviárias, a cíclica inundação de ruas, avenidas e travessas da cidade em época chuvosa e a reposição da iluminação pública é a meta do Projecto de Infra-estruturas Integradas de Benguela, em execução desde Janeiro de 2022, num orçamento de 415 milhões de euros.
Volvidos mais de um ano do arranque do projecto, já se vislumbram os resultados esperados de um programa ambicioso que, hoje, confere a Benguela uma imagem convidativa.
Esta nova realidade contrasta com a pálida e triste imagem que a cidade apresentava até antes de 2022, com estradas a rebentar pelas costuras e, por consequência, o caos no trânsito.
De estrada esburacada, hoje a avenida Sousa Coutinho, vulgo via da Maxi, com dois sentidos e sinalização vertical e horizontal, iluminação pública, arborização e sistema de esgotos operacional, é a prova de uma cidade que recupera a sua mística e onde o modernismo tem lugar.
Em estado de abandono há mais de 30 anos, os vulgos prédios dos cubanos, inacabados e que já serviram como refúgio de marginais, também não ficaram de fora do pacote de obras.
Uma parte destes antigos edifícios foi alvo de obras de requalificação e as velhas paredes de blocos foram substituídas pela chamativa cor-de- rosa, sendo, hoje em dia, uma atração para quem circula diariamente pela rua de Angola.
No que aos monumentos diz respeito, destaque para a reabilitação completa do Museu Nacional de Arqueologia e do Cine Teatro Monumental, ainda em obras, a sala de cinema mais antiga da cidade, inaugurada em 1952.
Como a cidade tem potencial para atrair ainda mais turistas, as autoridades benguelenses, com o governador provincial Luís Manuel da Fonseca Nunes, à testa, lançaram mãos à reabilitação do principal cartão-postal da cidade.
A famosa praia Morena, motivo de inspiração para muitos fazedores de artes, entre músicos, poetas e artistas plásticos, apresenta nova imagem.
Fruto desta intervenção há muito aguardada pelos benguelenses, a Praia Morena, antes bastante degradada, recuperou o charme de outros tempos e, hoje, é onde a cada dia e noite um mar de gente inunda as calçadas.
Engavetado há décadas no Palácio Cor-de-Rosa, sede do Governo Provincial de Benguela, o ambicioso projecto de alargamento da actual marginal da Praia Morena até à foz do rio Cavaco, no bairro do Quioxe, voltou a dar o ar da sua graça, numa altura em que as obras avançam a todo o vapor.
Para prevenir as inundações que assolam a cidade em tempo de chuva, o governo está a reabilitar de forma profunda a avenida 31 de Janeiro, com a introdução de um novo e eficiente sistema de macrodrenagem, o que vai facilitar o escoamento das águas pluviais e residuais para o mar.
As avenidas Fausto Frazão e Serpa Pinto estão, tal como outras, incluídas no rol de intervenções.
Mas, o dia-a-dia dos benguelenses é, também, marcado por dificuldades de vária ordem, resultantes do ritmo intenso do crescimento da população e, por conseguinte, do surgimento desordenado de bairros, com ruas sem saídas, valas de água poluídas e focos de lixo, além da insegurança por conta da delinquência juvenil.
Esta situação fez retroceder, de certo modo, a qualidade de vida urbana, dado o défice no abastecimento de água potável e de energia eléctrica, sem se esquecer dos transportes públicos.
Apesar disso, é visível o empenho das autoridades do município e a nível provincial, que, de mãos dadas com os munícipes, tudo fazem em prol de uma melhor estruturação da cidade e da melhoria da qualidade de vida dos citadinos.
Benguela, considerada por muitos como “o recanto dos poetas, escritores, músicos, compositores, artesãos, do canto do matrindindi, da miss universo (Leila Lopes), atletas de andebol, futebol e basquetebol, transforma-se em terra do progresso que segue imparável.
Com uma notável presença da polícia nas ruas de Benguela, para garantir o sentimento de segurança, Benguela assinala 406 anos de existência e as Acácias Rubras são sem sombra de dúvidas o maior símbolo desta cidade, a mais cantada de Angola.
Hoje, Benguela, a segunda cidade mais antiga do país, depois de Luanda, mantém o estatuto de importante parque industrial em busca do bem-estar dos seus habitantes.
Aliás, o músico Fernando Quental eternizou Benguela com a música: “Quando fui a Benguela, não quis regressar…ao ver praia Morena fiquei a sonhar…”, e ou como cantaria Hélvio, na minha Benguela, “Na minha Terra na minha gente…”.
Benguela, a menina bonita de quem tem olhos para ver, tem muito potencial a oferecer. Vale a pena visitá-la. JH/CRB