Luanda – Já não é novidade para ninguém que o Dia Internacional da Família (15 de Maio) é celebrado, este ano, diante de uma das piores crises da história da humanidade.
Por Tchinganeca Dias
À semelhança de 2020, milhares de famílias vivem esta simbólica data, em todo o Planeta Terra, mergulhadas numa crise social e sanitária praticamente sem precedentes.
A data, que deveria ser marcada por abraços e expressões públicas de carinho, torna-se, em 2021, num momento de preocupação para milhares de famílias, por causa da Covid-19.
Contra a vontade de milhares de cidadãos, o 15 de Maio é celebrado num cenário de incertezas, marcado pelo aumento da pressão econômica sobre as famílias, particularmente as mais vulneráveis, cujas rendas se afiguram cada vez mais fragilizadas, por causa da pandemia.
No caso particular de Angola, este ano a efeméride celebra-se numa altura em que os índices de pobreza têm vindo a aumentar, à semelhança do resto do Mundo, como resultado da crise económica e financeira registada desde finais de 2014, agravada pela pandemia da Covid-19.
Dados recentes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) reportam a existência de 1,3 mil milhões de pessoas em situação de pobreza muldidimensional, em todo o Mundo, das quais 662 milhões são crianças de 104 países.
Conforme as estatísticas, Moçambique (72,54%), Guiné-Bissau (67,42%) e Angola (52%) têm mais de metade da população em situação de pobreza multidimensional.
Segundo o PNUD e a Iniciativa da Oxford, a Índia é o país que mais melhorou os seus dados, com 271 milhões de pessoas a saírem da pobreza, nos últimos dez 10 anos, apesar de a evolução não ter sido calculada para os outros países.
No caso concreto de Angola, com 30 milhões de habitantes, os dados indicam que a pobreza aumenta mais em agregados com sete ou mais membros se comparado com famílias com uma ou duas pessoas.
Actualmente, a taxa de pobreza em Angola está estimada em 52 por cento da população.
Dados oficiais indicam que, durante os últimos dois meses, três mil e 728 trabalhadores foram afectados pelos despedimentos e suspensões das relações jurídico-laborais, agudizando mais a situação de muitas famílias que enfrentam a pobreza.
Segundo a cidadã Joana, residente na província de Luanda, este ano não há razões para festejar, como em outras épocas, o Dia Internacional da Família.
Antes da pandemia, Dona Joana diz que trabalhava como empregada doméstica na centralidade do Kilamba, tendo sido despedida por causa da actual conjuntura.
Dona Joana, 48 anos, mãe de 5 filhos, vive maritalmente, mas o marido atravessa o mesmo dilema do desemprego. Vive de alguns biscates, actualmente.
Devido às dificuldades da vida, diz que não tem motivos para alegrar-se nesta data, situação similar a de Edna Figueiredo, mãe de dois filhos, moradora da centralidade do Sequele, município de Cacuaco.
Professora do 2º ciclo e mãe solteira, Edna Figueiredo afirma que, devido às dificuldades, com o aumento dos preços da cesta básica, principalmente nesta fase, o Dia Internacional da Família, este ano, é vivido sem a alegria de outros tempos.
A propósito, a psicóloga clínica Edwigwa Francisco diz que a pandemia agravou a crise no núcleo familiar, sublinhando que as dificuldades financeiras e económicas impuseram a perda da auto-estima e causaram transtornos nos membros de vários lares.
A especialista adianta ser frequente o registo de casos de depresso nas unidades de saúde, derivados do agravamento da condição e vida dos cidadãos. Em média, conta, recebem mais de 10 casos/dia de pacientes com necessidade de assistência psicológica.
"As patologias mais frequentes são as manifestações de ansiedade, depressão, crises psicogénicas, transtornos de adaptação, reacção aguda, estresse pós-traumático, entre outras.
A especialista sublinha quee apela às famílias para se manterem unidas, mais solidárias, darem e receberem amor, de forma a se ultrapassar as dificuldades.
Combate à pobreza
Conquanto, no quadro do Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN), o Executivo angolano traçou objectivos, metas e resultados para os sectores sociais, para melhorar e aumentar a protecção social das famílias, de forma equitativa e sustentável.
Entre os projectos de protecção social executados pelo Executivo angolano destaca-se o Programa de Protecção Social (Kwenda), que está a contribuir na melhoria da qualidade de vida e permitir melhor inclusão social dos cidadãos.
O Kwenda é um projecto desenhado pelo Executivo para a transferência de uma renda mensal fixa, no valor de 8.500 Kwanzas e implementado pelo FAS.
O Kwenda tem a duração de três anos e abrange quatro componentes: Transferências Sociais Monetárias, até um ano, Inclusão Produtiva, Municipalização da Acção Social e, por último, o reforço do Cadastro Social Único.
O programa, com duração de três anos, prevê beneficiar um milhão 608 famílias nas 18 províncias do país e conta com um financiamento global de 420 milhões de Dólares (320 milhões atribuídos pelo Banco Mundial e 100 pelo Executivo angolano).