Luanda – O especialista em estudos de línguas e literaturas africanas César Tomé Palanca defendeu, esta quarta-feira, em Luanda, a necessidade de maior investimento por parte das autoridades angolanas no processo de preservação das línguas maternas.
Em declarações à ANGOP, em alusão ao Dia Internacional da Língua Materna, que hoje se assinala, sob o tema “A educação multilíngue é um pilar da aprendizagem intergeracionail”, apelou também para o envolvimento das populações com vista a evitar a extinção deste bem imaterial da sociedade.
No seu entender, as línguas nacionais constituem um património imensurável, pois a língua é um povo, uma nação, cultura e identidade.
Entretanto, considera que falar da preservação das línguas tem sido um dos maiores tabus, uma vez que muitos consideram um “atraso” no que toca à globalização, facto que é comprovado pela pouca divulgação a nível dos meios de comunicação social, apesar de já se sentirem alguns esforços em algumas estações.
Neste sentido, César Tomé Palanca defende também a implementação de alguns mecanismos, como a livre “circulação” das línguas nacionais a nível das instituições administrativas, sendo proporcionado ao cidadão a faculdade de se expressar na sua própria língua e ter o mesmo tratamento em relação àqueles que se comunicam em português.
“Hoje por imperativo da dinâmica da sociedade, as pessoas saem das zonas rurais para as cidades e perdem a riqueza linguística, passando de repente para uma colonização mental e linguístico”, referiu.
Embora não se assista a instrução das línguas nacionais a nível de todas as instituições de ensino no país, César Tomé Palanca referiu que estas podem jogar um papel fundamental para sua perseveração a nível local, influenciando os alunos a buscarem informações junto dos mais velhos sobre o significado das coisas.
Assim sendo, recomenda que os órgãos de comunicação social aumentem os espaços de antena dedicados as línguas locais, bem como se traduza os documentos oficiais nas línguas regionais e locais.
Quanto ao processo de ensino e aprendizagem, sublinhou que passaria por se desenvolver um projecto sistemático que incluiria todos os planos curriculares desde o Ensino Primário até às Superior.
No país a língua oficial é o Português, para além de diversas línguas nacionais, sendo as mais faladas, o Kikongo, Kimbundo, Tchokwe, Umbundo, Mbunda, Kwanyama, Nhaneca, Fiote, Nganguela.
Ao comemorar-se esta data a Unesco, agência especializada das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, entende o uso da língua materna como meio de instrução é vital para o sucesso educacional, especialmente para as minorias populacionais.
Assim sendo, defende que os governos garantam a educação multilíngue para promover a coexistência de idiomas, bem como alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
A agência relata ainda que os países de renda média-alta e alta, as crianças que aprendem em sua língua materna têm 14 por cento de mais probabilidade de ler com compreensão ao final do ensino fundamental, no ensino médio, essa probabilidade aumenta para mais de 40 por cento.
Dados da organização apontam que em todo mundo, 250 milhões de crianças e jovens ainda não frequentam a escola e 763 milhões de adultos não dominam as competências básicas de literacia.
Neste caso, aponta que a educação na língua materna apoia a aprendizagem, a alfabetização e a aquisição de línguas adicionais.
O Dia Internacional da Língua Materna foi aprovado na Conferência Geral da UNESCO em 1999 e tem sido observado em todo o mundo desde 2000. ANM/ART
