Exposição de crianças em redes sociais pode causar danos

     Sociedade           
  • Luanda     Terça, 31 Maio De 2022    13h45  
Computador, instrumento básico na era digital
Computador, instrumento básico na era digital
Joaquim Tomás-ANGOP

Luanda –  O uso da Internet e das redes sociais, de forma indiscriminada, está a impactar negativamente na vida de milhares de crianças angolanas, fazendo aumentar os casos de desequilíbrio cognitivo e de transtornos de défice de atenção.

Embora não haja dados concretos sobre o real impacto do mau uso destes recursos tecnológicos em Angola, especialistas alertam que muitos menores já apresentam sinais claros, como ansiedade e problemas com a linguagem e comunicação.

De acordo com alguns especialistas, trata-se de um fenómeno que tem vindo a crescer no país, levando muitas crianças e adolescentes a enfrentarem problemas nas relações interpessoais, como solidão e diminuição das actividades físicas, sociais e familiares.

Segundo estes profissionais, ouvidos pela ANGOP no quadro do Dia Internacional da Criança (1 de Junho), é imperioso que os pais e encarregados de educação redobrem os cuidados com as crianças e adolescentes em relação ao uso das redes sociais.

Dados do UNICEF indicam que um em cada três utilizadores de Internet, em todo o mundo, é criança, o que aumenta a necessidade do controlo dos pais.

No caso de Angola, de acordo com dados do Instituto Angolano das Comunicações (INACOM), cerca de 13 a 14 milhões de cidadãos usam telemóvel, dos quais 60% acedem às plataformas digitais por via de telefones móveis, 43,3% o fazem através de computadores portáteis e de mesa e 1,7% através dos conhecidos tablets.

Os números indicam que existem cerca de 2,20 milhões de utilizadores activos nas redes sociais,  que gastam, em média diária, 3 horas e 43 minutos na Internet.

O governo Angolano ambiciona um crescimento de 85% de utilizadores de Internet, aproximadamente 12,8 milhões de utilizadores até ao final de 2022, o que corresponderá a quase o dobro de utilizadores de Internet em Angola em 2020.

Diante deste quadro, os especialistas aconselham os adultos que tenham em casa menores de 18 anos a monitorar, permanentemente, os sites por eles utilizados.

De igual modo, recomendam que os pais orientem os seus filhos sobre os riscos de se relacionarem com as pessoas no mundo virtual, onde afirmam existirem pessoas de má fé, dispostas a prejudicar a vida e a imagem do próximo.

Para os especialistas, o exibicionismo e a busca por reconhecimento levam os adolescentes a exporem-se cada vez mais nas redes sociais, sublinhando que a participação dos menores no mundo virtual requer cuidados redobrados, para que esse ambiente não interfira de forma negativa na saúde dos mesmos.

Defendem que o uso excessivo das redes sociais pode criar imensos conflitos sociais, tanto familiares, quanto individuais, passíveis de alterar os seus relacionamentos.

Entretanto, sublinham que as redes sociais também podem trazer pontos positivos, possibilitando, principalmente, encontros virtuais entre pessoas que vivem distante.

A psicológa Elizabeth Faustino defende que o ideal é que crianças até aos dois anos não tenham contacto com a tecnologia.

O contacto muito cedo com a tecnologia pode trazer algumas alterações nas fases do desenvolvimento, porque as crianças não estão preparadas para receber a quantidade de estímulos que a tecnologia traz.

Segundo o pedagogo Victor Capolo, é necessário que os pais criem regras rígidas para os filhos fazerem o uso da Internet, como limitar o tempo de exposição às mídias ao máximo de 1 hora por dia, para crianças entre 2 a 5 anos de idade.

"As crianças entre 0 a 10 anos não devem fazer uso de televisão ou computador nos seus próprios quartos é um autêntico risco para a saúde mental das mesmas", disse.

Victor Capolo acrescenta que os adolescentes não devem ficar isolados nos seus quartos ou ultrapassar as suas horas saudáveis de sono (8-9 horas por noite).

A esse respeito, estudos indicam que crianças menores de 6 anos precisam de ser mais protegidas da violência virtual, porque não conseguem separar a fantasia da realidade.

No entender da também pedagoga Valéria Leite, os pais e encarregados de educação devem equilibrar as horas de jogos online com as actividades desportivas, brincadeiras, exercícios ao ar livre ou em contacto directo com a natureza.

"Devem conversar sobre as regras de uso da Internet, configurações para segurança e privacidade e sobre nunca compartilhar senhas, fotos ou informações pessoais ou se exporem na webcam, mesmo com pessoas conhecidas em redes sociais", recomendou.

De acordo com o UNICEF, “as TIC amplificaram alguns dos perigos tradicionais da infância, uma vez confinados ao pátio da escola, sendo que o malfeitor pode agora acompanhar as vítimas até às suas casas”.

De igual modo, diz o UNICEF, criaram novos perigos, como expandir o alcance dos predadores, promover a criação de material de abuso sexual infantil "feito sob encomenda e ampliar o mercado para a transmissão de abusos sexuais ao vivo”.

Aquela organização refere que muitos dos perigos são desconhecidos pelos pais, apontando como exemplo as ameaças à privacidade e identidade das crianças e o processamento de dados em escala industrial que a Internet tornou possível.

Relativamente à exposição e abuso sexuais, um dos perigos para os quais existem muitos alertas, a UNICEF refere que mais de nove em cada 10 URL relactivos a abuso sexual infantil identificados globalmente estão hospedados em cinco países (Canadá, França, Holanda, Federação Russa e Estados Unidos).

Para o UNICEF, não restam dúvidas, por tudo o que mostram os seus relatórios, de que as crianças têm de ser colocadas no centro da política digital.

Pensando nisso, o Governo angolano, através da Direcção Nacional das Políticas de Cibersegurança e Serviços Digitais, lançou, recentemente, uma campanha que visa a criação de mecanismos para garantir a segurança electrónica das crianças na utilização dos dispositivos electrónicos.

Segundo o director, Hecdiantro Mena, as crianças e os adolescentes têm de ser protegidos do abuso, da exploração, do tráfico, do cyberbullying e da exposição a conteúdos inadequados.

Cumprir essas recomendações implica o envolvimento de várias partes interessadas. “Somente através das acções entre governos, sector privado, organizações infantis, academia, famílias e crianças é possível igualar as condições de acesso ao mundo digital e tornar a Internet mais segura e acessível para as crianças.





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