Hoji ya Henda: local para todos os bolsos

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  • Luanda     Terça, 25 Janeiro De 2022    14h09  
Armazens do Hoji Ya Henda, na província de Luanda
Armazens do Hoji Ya Henda, na província de Luanda
Pedro Parente

Luanda - No bairro Hoji ya Henda compra-se de tudo. Produtos de boa e de péssima qualidade e para todos os bolsos. Quem pretende comprar mobiliário, roupas, calçados, entre outros bens, facilmente pode-se encontrar no Hoji ya Henda.

Por: Denilson de Jesus  

Oitenta por cento (80%) da zona residencial do bairro Hoji Ya Henda, município do Cazenga, que já foi considerada uma das zonas  mais belas de Luanda, com vivendas luxuosas de um e dois pisos, foi transformada em zona comercial.

Ocupado maioritariamente por comerciantes de países da África do Oeste, a antiga zona residencial tornou-se num bairro desorganizado, totalmente degradado, com ruas esburacadas e cheias de águas paradas.

Esta zona, de forte actividade mercantil, carece de uma intervenção profunda para a melhoria dos acessos, permitindo o escoamento das águas residuais e pluviais, que se acumulam pelo facto de não existir na zona sarjetas, valas de drenagem, passeios, nem estradas asfaltadas.  

Para agravar a situação, de acordo com o morador Alfredo de Almeida, vários camiões fazem o trajecto entre a estrada principal para o interior do bairro para a descarga da mercadoria, agravando muito mais o estado de degradação da estrada que já não existe,

Em qualquer parte faz-se comércio. Em quase todas as portas, ruas, travessas e onde for possível “estende-se um saco ou coloca-se uma bancada”, afirmou. Todo o sítio é ideal para vender alguma coisa.

“Existem pessoas que compram os produtos dentro de uma loja e descaradamente revendem as mercadorias mesmo em frente da loja de onde acabaram de sair”, desabafou um vendedor ambulante.

Quem se desloca aos armazéns do Hoji ya Henda encontra uma variedade infinita de produtos que vão desde o mobiliário, às roupas, calçados, electrodomésticos, motorizadas de três e duas rodas, cosméticos, perfumese brinquedos, entre outros.

Comerciantes

O  Cazenga conta com quatro mil 798 estabelecimentos comerciais, sendo 117 grossistas, três mil 692 retalhistas, 292 de prestação de serviço, 690 de comércio precário e um de comércio de representação, mais de metade dos quais situados no Hoji ya Henda.

Grandes partes dos estabelecimentos comerciais, antes moradias, foram arrendados e alterados, criando, às vezes, dentro de uma única habitação dois ou mais estabelecimentos comerciais.

Segundo dados fornecidos pelo director do Comércio do Cazenga, Aurélio Baptista, nos dias de hoje foi alterada para comercial, onde cerca de mais de 10 mil pessoas, entre estrangeiros e nacionais, exercem a sua actividade.

Deste número acrescenta-se o de fregueses que, provenientes de várias províncias de Angola ou mesmo do estrangeiro, deslocam-se ao Hoji ya Henda à procura de “preços mais apetecíveis”.

Aurélio Baptista informou que os produtos comercializados no local são provenientes de países como a África do Sul, Brasil, China e Tailândia, abastecendo assim outros mercados de Luanda e de outras províncias.

Na zona, encontram-se os armazéns que se destinam à venda a grosso, as lojas que se dedicam à venda a retalho e os comerciantes angolanos que revendem os produtos mesmo à porta dos armazéns.

Quanto a comercialização de produtos frescos e bebidas, o responsável admitiu que este negócio é dominado por cidadãos de países árabes, e que muitos deles ocuparam antigas fabricas e transformaram-nas em armazéns para venda dos seus produtos.

Relativamente a recolha dos resíduos sólidos produzidos no local, os comerciantes organizaram-se e contrataram microempresas para a recolha permanente do lixo, assim como a ELISAL, empresa contratada que também celebrou contratos com algumas microempresas.

A praça das Mulheres

Outra parte do Hoji ya Henda que chama atenção é a Praça das Mulheres, localizada num espaço de aproximadamente 300 metros de comprimento e 60 de largura, com mais de 600 pequenas lojas geridas exclusivamente por senhoras.

De terça-feira a sábado, os portões do mercado são abertos a partir das cinco horas e encerrados por volta das 16h, o que permite que centenas de pessoas, oriundas de vários pontos de Luanda e do interior, comercializem produtos como roupas, jóias, cosméticos e calçados, entre outros.

A funcionária pública Marles Divua, frequentadora da Praça das Mulheres, considerou atractivos os preços e os artigos comercializados no local, como roupa, calçados e perucas.

Para além do distrito do Hoji Ya Henda e 11 de Novembro, o Cazenga conta também com outras zonas onde são comercializados, com maior incidência, os electrodomésticos, loiça e bens alimentares, movimentando munícipes de todas as partes de Angola.

Só no distrito do Hoji ya Henda existem 10 mercados públicos, nomeadamente Asa Branca, Kwanzas, Hoji Ya Henda, Panga Panga, Malueca, Deolinda Rodrigues, Augusto Ngangula, Sucupira, Nova Luz e Pedreira, e seis privados que são o das Mulheres, Endap, Calawenda, 11 de Novembro, dos Combustíveis e Vai e Volta.

A decoradora Bruna Gaieta, uma “habitué” nessas compras, considera os preços praticados nos armazéns do Hoji Ya Henda de razoáveis, comparativamente com os da Gajajeira (distrito do Rangel) e da Cidade da China (no município de Viana).

Acrescentou que o trabalho de decoração obriga a constante inovação para atrair os clientes e o comércio no Hoji Ya Henda e na Praça das Mulheres disponibiliza artigos diversos e de diferentes qualidades.

Já à revendedora de loiça Josefa Correia admitiu que agora não precisa viajar, uma vez que compra os produtos que comercializa no Hoji Ya Henda para revender aos seus clientes no centro da cidade por bom preço, garantindo um bom lucro.

“No Hoji ya Henda podemos encontrar produtos de países como a Turquia, China, Brasil e Congo (Ponta Negra), o que tem ajudado muito as vendedoras sem condições de viajar para estes países em busca de negócio”, esclareceu.

Segundo a economista Julieta de Almeida, a zona do Hoji ya Henda pode servir como fonte de rendimento para o município, com a cobrança de impostos e de taxas aos comerciantes grossistas, retalhistas, cantinas e vendedores informais. 

“Infelizmente, nunca sabemos quanto é que a administração recebe de taxa de cada armazém. Mas, pela quantidade de armazéns grossistas, retalhistas e cantinas, presume-se que os comerciantes arrecadem mil milhões de kwanzas/mês”, referiu.

Incêndios

Entretanto, a área do comércio do município criou uma equipa técnica de inspecção aos estabelecimentos comerciais para aferir as condições de trabalho e prevenir incêndios, passando as  recomendações para evitar s sinistros.

Antes de iniciarem a sua actividade, lembrou o responsável, os estabelecimentos comerciais são vistoriados pelas autoridades no sentido de constatar se o empreendimento está em conformidade com os regulamentos aprovados.

A criação da equipa técnica surge para a prevenção de incêndios, pois o Hoji ya Henda “é o mais fértil” na província de Luanda em registo de incêndios por curto circuito, segundo especialistas.

Consta dos registos de incêndios por curto-circuito, a destruição de inúmeras barracas no Mercado dos Kwanzas e na Praça das Mulheres, mais de 10 armazéns e seis casas que serviam para armazenamento de mercadoria no Hoji ya Henda, causando prejuízos avaliados em mil milhões de Kwanzas.

História

Antes denominado bairro Santo António, em referência a paróquia da Igreja Católica com o mesmo nome, Hoji ya Henda  surge em homenagem ao guerrilheiro heróico do MPLA José Mendes de Carvalho, morto durante a luta de libertação nacional, em 1968, durante o assalto ao Quartel de Caripande (Moxico).

Segundo as pesquisas, foi no fim do século XVIII que chegou a Luanda um homem, da zona agora República do Congo, de nome Miguel Pedro Cazenga, que terá ocupado uma enorme extensão de terra, que ia desde a ex-Praça do Kinaxixi até ao actual município de Viana.

Consta que um dos seus descendentes, Pedro Guilherme Cazenga, faleceu na região do actual município aos 9 de Janeiro de 1946 e, em sua homenagem, foi definida essa data como o dia comemorativo da circunscrição.

O que hoje é a comuna do Hoji-ya-Henda eram bairros (São João, Adriano Moreira, São Pedro, Santo António, São Jorge, Vilela, Mabor) habitados, maioritariamente, pela população europeia.

Depois da proclamação da independência (11/11/75), com a guerra civil, um número considerável de refugiados internos instalou-se na zona, aumentando a população de forma impressionante.

Fontes afirmam que a zona do Cazenga começou a ser povoada com a instalação de unidades fabris, aviários de galinhas, patos e perus, e existia inclusive uma zona para o gado caprino. 

“Mas as vivendas luxuosas foram construídas mesmo para os próprios colonos e nós, os trabalhadores, como tínhamos que chegar cedo para trabalhar, decidimos construir próximo das fábricas, esclareceu Maria de Almeida, de 70 anos.

 





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