Luanda - O confinamento generalizado da população, causado pela Covid-19, abriu espaço para o surgimento, em Angola, de novas áreas de “exploração” nos domínios da formação técnica e profissional, como a literacia digital, que vai ganhando corpo entre os jovens.
Por Vissolela Cunha
A literacia digital é, em termos simples, uma espécie de “alfabetização digital”, ou seja, a capacidade do indivíduo de utilizar as ferramentas tecnológicas de modo eficaz.
Ela resume-se na absorção de competências básicas em tecnologias de informação e comunicação, e no uso de computadores, visando recuperar, avaliar, armazenar, produzir, apresentar, trocar informação, comunicar e participar em redes colaborativas, via Internet.
A literacia digital prima, essencialmente, pela segurança e privacidade, contribuindo para dotar os utilizadores de competências para a protecção de dispositivos e dados pessoais.
Segundo especialistas, a evolução do trabalho para uma dominância digital em relação ao analógico é inegável e necessária, atendendo que a exclusão digital é apontada como um dos maiores problemas da actualidade no Mundo.
Por essa razão, nos países desenvolvidos, muitos destes recursos existentes são focados em jovens e crianças, com o ensino, desde muito cedo, de noções de informática e programação.
Dados da consultora empresarial americana Mckinsey referem que, actualmente, cada vez mais pessoas no Mundo têm-se “socorrido” das ferramentas digitais, estimando-se que, até 2025, cerca de 52% das actividades operacionais sejam realizadas por máquinas ou softwares.
No caso de Angola, os desafios da literacia digital ainda são enormes, devido, fundamentalmente, aos altos custos de aquisição da Internet, dos smartfone, computadores e outros dispositivos essenciais para o acesso às TICs.
De acordo com dados do Instituto Angolano das Comunicações (INACOM), perto de 13 a 14 milhões de cidadãos usam telemóvel em Angola, mas destes, só aproximadamente 30% têm acesso a aparelhos que permitem aceder à Internet.
Os números indicam, igualmente, que existem cerca 2,20 milhões de utilizadores activos nas redes sociais, que gastam, em média diária, 3 horas e 43 minutos na Internet.
Conforme os números do INACON, cerca de 60% dos utilizadores acede às plataformas digitais por via de telefones móveis, contra 43,3% que o fazem através de computadores portáteis e de mesa, e 1,7% através dos conhecidos tablets.
Em concreto, o país conta com 6,8 milhões de consumidores de Internet, actualmente, sendo que a maioria deles já têm actuação confirmada nas redes sociais.
Para alguns estudiosos, a literacia digital não pode ser apenas entendida como ferramentas tecnológicas e de computadores, sendo necessário perceber o que são realmente as redes sociais, o que representa uma página, site ou conteúdo digital, o que é uma ferramenta, o que é uma aplicação, quais são as implicações de uma palavra, de uma partilha ou de um post.
Inclusão digital
De acordo com o gestor de tecnologia de informação, Alfredo Capitamolo, a literacia digital começa a ter cada vez mais importância na promoção da cidadania global, tendo em conta o imediatismo na produção, distribuição e acesso à informação.
O especialista afirma que mais do que saber usar esses recursos, torna-se importante saber usá-los para a promoção de rendimentos e conectividade com outras pessoas, bem como para promover o desempenho escolar e no trabalho.
Alerta para a necessidade das pessoas entenderem que o computador e outros meios digitais são ferramentas que podem servir para promoção da empregabilidade e para a geração de renda, mas, consequentemente, também podem criar actos nocivos.
Em meio à situação de segurança e os crimes cibernéticos que ocorrem, Alfredo Capitamolo considerou que o país possui meios técnicos e humanos especializados para fazer face a qualquer situação, sem descurar os apoios externos.
"Temos juristas que já se interessam por essa área, profissionalizando-se em perícia e crimes informáticos e digitais, mas são necessárias leis para regular o uso desta importante ferramenta global”, considera o especialista.
O gestor de tecnologia de informação mostra-se preocupado com as pessoas que não têm acesso ou recursos para promoverem a sua inclusão no mundo digital, e apela às autoridades no sentido da criação de políticas para o acesso à literacia digital.
"É importante promover as ferramentas tecnológicas para as crianças, jovens e adultos".
Meios tecnológicos
Por sua vez, o estudante do curso de engenharia informática Luís Gomes, 22 anos de idade, refere que a literacia digital proporciona uma comunicação mais segura entre as pessoas, particularmente através das redes sociais.
“A expressão também pressupõe bom uso da Internet e de tecnologias associadas, não somente para lazer e entretenimento, mas sim uma aprendizagem activa”, reforça.
Do seu ponto de vista, a literacia digital é indispensável, porque tornou acessível inúmeras informações e tecnologias para milhares de cidadãos espalhados pelo Mundo.
O também estudante de engenharia informática Martins António considera importante que se aprofunde essa definição, porquanto ela incide na preparação das pessoas para o mundo moderno, com o desenvolvimento de competências cognitivas e interpessoais.
O professor universitário Emanuel Tunga lembra que o trabalho à distância atingiu o seu cume durante o período mais delicado da Covid-19, nos meses de Março e Abril de 2020, lembrando que todas as instituições foram obrigadas a fazer adaptações, incluindo as instituições de ensino superior.
"No caso concreto do Instituto Superior Politécnico de Tecnologias e Ciências (ISPTEC) foram adoptadas e implementadas várias medidas dentro das orientações do próprio Ministério e da realidade criativa da própria instituição. Estas iniciativas concorreram para a melhor adaptação do trabalho à distância”, lembrou.
Entre estas iniciativas, destaca a formação em matéria de ambiente, configuração e uso das plataformas Google Classroom e Google Meet.
"Quanto à minha própria adaptação ao teletrabalho, foi simples e rápida, visto que o trabalho à distância é suportado, essencialmente, por sistemas e tecnologias digitais, que todo profissional do curso de Engenharia Informática tem facilidades de aprender”, refere.
Faz saber que a pandemia da Covid-19 criou rotura na forma de ser, de agir e de fazer, com as novas tecnologias no trabalho a serem uma realidade irreversível e incontornável.
"Estamos a dizer que a pandemia antecipou aquilo que seria uma realidade nos próximos tempos. Esta realidade é a indivisão entre o trabalho e as novas tecnologias em qualquer área, incluindo na educação”, comenta.
Emanuel Tunga diz que o uso das TICs no trabalho deve sempre ser acompanhado de acções de capacitação, actualização e sensibilização, para o funcionário perceber que a tecnologia é um grande aliada para o seu bem-fazer profissional e maximizar os resultados.