Lubango – O Município do Lubango, capital da Huíla, regista uma média de quatro suicídios por mês, segundo o departamento de Medicina Legal do Serviço de Investigação Criminal (SIC), representando um caso por semana.
O departamento de Medicina Legal da Huíla foi implementado em 2014, mas as investigações iniciaram apenas em 2016 no hospital central do Lubango “Dr. António Agostinho Neto”. Desde o início dos trabalhos até ao momento já registam 304 suicídios no município, na sua maioria envolvendo homens.
A informação foi avançada hoje, quinta-feira, nesta cidade pela psicóloga do departamento de Medicina Legal do SIC/Huíla, América Bastos, durante um encontro de reflexão e prevenção ao suicídio, promovido pela Administração Municipal do Lubango, no quadro do “Setembro Amarelo”.
A responsável, que apresentava os dados do Lubango, afirmou tratar-se em média de mais casos na faixa etária dos 20 aos 35 anos de idade, pese embora já se registou um de uma criança de nove anos e outro de um idoso de 79.
Declarou que a maior parte dos suicídios estão ligados a perturbações mentais, principalmente casos de esquizofrenia e depressão, pelo que há necessidade de fazer maior divulgação das crises mentais, as questões de vida e o papel da rede familiar.
“O suicídio é uma construção, olhamos para o acto como o ponto final, mas antes os indivíduos chegam a verbalizar, acometer uma tentativa anterior e até alguns chegam de escrever cartas, antes do acto.
Referiu que as formas mais frequentes de cometimento de suicídio são os enforcamentos e a intoxicação por medicamentos ou pesticidas. Dos mecanismos pouco repetidos consta a imolação, quedas de altura e disparo por arma de fogo.
Manifestou ser uma situação preocupante, pois a pessoa em casa tem uma rede de apoio familiar que tem a obrigação de estar mais atenta ao seu parente em função dos sinais apresentados no processo.
América Bastos acrescentou que existem ainda pessoas que preferem ir para a via pública e outros na instituição por onde trabalha, o que não deixa de ser inquietante.
Reforçou que o suicídio não escolhe idade, sociedade, estrato social ou raça, todo indivíduo, podendo acometer todo aquele que não esteja dentro das suas faculdades mentais e a padecer de algum tipo de situação difícil, levando a encarar o acto como a única forma de fugir ou aliviar o problema.
Salientou que durante as avaliações feitas, parte dos indivíduos têm algum antecedente relevante, como doença crónica, consumo de substâncias, perturbações mentais, onde alguns chegam a verbalizar a tendência de tirar a própria vida e outros deixam uma carta de despedida.
Defendeu a construção de um centro multidisciplinar de assistência para poder encaminhar as pessoas que carecem de ajuda e assim orientar a sociedade para a prevenção do suicídio, promovendo uma comunidade mais saudável mentalmente.
América Bastos ressaltou que a construção mental do indivíduo é a base, pois pessoas com maturidade emocional e mental para lidar com todas as situações do quotidiano, dificilmente pensam em cometer suicídio.
O “Setembro Amarelo” é uma campanha que faz referência ao Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, assinalado dia 10 do mesmo mês. Foi criado em 2003 pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
A corrente visa prevenir o acto do suicídio, através da adopção estratégias pelos governos dos países. Representa um compromisso global de focar a atenção na prevenção do suicídio. EM/MS