Lobito – As más condições de habitabilidade, dificuldades de acesso à água, energia e a serviços básicos como um mercado para venda de produtos alimentares, provocaram o abandono de várias residências no bairro dos Cabrais, município da Catumbela, província de Benguela.
Numa ronda efectuada esta quinta-feira àquela localidade, situada junto a estrada nacional EN100, a 22 quilómetros da cidade do Lobito, a Angop apurou que nenhuma das casas em construção desde 2016/17, com fundos públicos, está acabada.
Algumas possuem tecto, enquanto que outras não têm portas e janelas, estando os moradores sujeitos a viver ao relento.
Devido a essa situação, das 300 famílias inicialmente ali instaladas, hoje permanecem no local apenas 145.
O soba do Bairro, Avelino Tchipilica, afirmou que a situação apresenta “sérios perigos” no tempo de chuvas, devido a inundação, assim como o surgimento de bichos, tais como insectos, cobras e escorpiões, que já chegaram a causar a morte de alguns residentes.
Afirmou ainda que o abastecimento de água é um dos grandes problemas, na medida em que o bairro é abastecido por camiões cisternas da empresa MCA, cujo fornecimento semanal é irregular.
“A água, retirada do rio Catumbela, na comuna do Biópio, é colocada em dois tanques com capacidade de 108 metros cúbicos, bastante turva e imprópria para o consumo humano, causando febre tifóide a muitas pessoas”, reclamou.
No que toca a energia, Avelino Tchipilica disse que muitas famílias não beneficiam dela, ficando privadas de conservar produtos perecíveis.
O Posto Policial conta apenas com dois agentes, que fazem guarnição e estão desprovidos de meios necessários para cumprir cabalmente com o seu papel, segundo o soba.
Rosa Chingongo, outra moradora do Bairro dos Cabrais, revelou que as senhoras fazem grandes sacrifícios para comprar mantimentos nas praças do Lobito. "Quando não podem se deslocar, elas são obrigadas a juntar mil e 200 Kwanzas para o táxi, ida e volta, adicionar o valor da sua despesa e entregar a alguém encarregado de trazer os produtos.
“A corrida para descer ao Lobito fica normalmente por 500 Kwanzas, mas pedindo favor ao motorista, acaba por baixar para 300 ou 250 Kz. De regresso, chega a atingir 700 Kz. Por isso, somos capazes de ficar um mês sem ir ao Lobito”, desabafou a senhora.
Em relação à Educação, a escola primária 11 de Março, única no bairro, tem seis salas de aula, e funciona apenas no período diurno, por falta de energia.
De acordo com o director pedagógico, Francisco Limpo, a escola tem capacidade para 214 alunos do ensino primário mas, além disso, possui salas anexas na comuna do Biópo que albergam mais 95, totalizando 309 alunos.
“O maior constrangimento está no seu acesso, por ela estar situada a cerca de dois quilômetros do bairro e no período de chuvas as crianças chegam à escola molhadas”, informou o director com tristeza.
Enfermeiros fazem consultas noturnas à luz do telemóvel
Os enfermeiros em serviço no Centro Médico do bairro dos Cabrais atendem actualmente as consultas noturnas recorrendo á luz dos seus telemóveis, devido a falta de energia naquela unidade hospitalar, segundo o seu director administrativo, Januário Manuel.
Referindo-se ao corpo clínico, disse existir um médico de clínica geral e dez enfermeiros que atendem entre 25 a 30 pacientes por dia.
Com capacidade de 22 camas, 13 para adultos e nove para a pediatria, o Centro funciona com fonte alternativa, mas o gerador encontra-se paralizado desde o passado dia 23 de Fevereiro, devido ao furto da sua bateria.
Januário Manuel garantiu que o caso já é de domínio da Administração Municipal da Catumbela, que prometeu repor o material em breve.
Acrescentou ainda que a única ambulância que apoia aquela unidade hospitalar fica estacionada na comuna do Biópio, apesar de estar disponível a qualquer altura mas, neste momento, o seu motorista encontra-se de férias, pelo que são obrigados a chamar o carro do Instituto Nacional de Emergências Médicas de Angola (INEMA), como alternativa, para transportar os casos que ultrapassam a sua capacidade, para o Hospital da Catumbela.
Governo Provincial garante eliminar constrangimentos
Com vista a ultrapassar as dificuldades manifestadas pelos moradores, o Governo Provincial de Benguela tem já programadas acções, algumas da quais a serem implementadas a curto prazo, segundo o assessor da Administração Municipal da Catumbela para a Área Social, Enoc Cussendela.
O assessor reconhece, por exemplo, que a água fornecida através dos camiões cisternas é insuficiente para a população e de má qualidade, mas adiantou que o Governo da província tem em carteira um projecto para colocar um ramal, a partir do Biópio, para abastecer não só a zona, como também a Centralidade e a Refinaria do Lobito.
Quanto às residências, afirmou que há orientações do Presidente da República, João Lourenço, ao Ministério das Finanças, para desbloquear as verbas necessárias para o seu acabamento, pelo que a população pode ficar tranquila, porque esta acção é uma das prioritárias.
Sobre a energia, disse que dentro de dois meses a Administração do município vai restabelecer a iluminação pública, enquanto que os seus técnicos estão a trabalhar em coordenação com a Empresa Nacional de Distribuição de Energia (ENDE), para realizarem as ligações domiciliares.
“Identificamos um espaço, perto do desvio para o Biópio, onde será construído um mercado com 145 bancadas, semelhante ao que foi erguido na comuna da Praia Bebé, no âmbito do Programa de Combate à Fome e à Pobreza.
Estamos confiantes em que brevemente possamos acudir as preocupações mais preementes das populações daquele bairro”, concluiu.
O bairro dos Cabrais, localizado junto ao desvio do Biópio, alberga famílias provenientes dos municípios do Lobito e da Catumbela, desabrigadas pelas chuvas que se abateram sobre a região no dia 11 de Março de 2015, tendo causado um número considerável de mortes.