Catumbela – A população em Benguela classifica a medida do Governo de alocar 415 milhões de euros para obras de emergência na província como prenúncio de dias melhores para os munícipes no litoral, agastados com a degradação das vias e a crise no abastecimento de água potável.
A iniciativa é do Presidente da República, João Lourenço, que autorizou 415 milhões de euros para a execução de um projecto integrado de obras de emergência nos municípios de Benguela, Lobito e Baía Farta, no âmbito de um financiamento por parte da empresa ASGC Limited, do Reino Unido.
Segundo o despacho 142/21 assinado pelo Chefe de Estado, o referido empréstimo tem em conta, entre outros, a urgência na construção e recuperação de infra-estruturas básicas, sistemas de abastecimento de água, construção e reabilitação de vias rodoviárias, edificações públicas, aproveitamentos hidroagrícolas, rede de distribuição de energia e iluminação pública.
Falando à ANGOP em reacção ao anúncio do Governo, o engenheiro Lucas Pinto prevê ganhos para todos, porque o projecto integrado de obras de emergência pode resolver parte dos problemas estruturantes destas localidades, como a distribuição de água e as vias de acesso.
Morador no bairro do Casseque, arredores da cidade de Benguela, o ancião Francisco Kapa aplaude a medida, mas pede que se preste especial atenção ao sector das águas no litoral da província, tendo em conta a redução da oferta desse serviço aos consumidores.
Lembrando que Benguela já teve dias melhores em termos de estradas e distribuição de água às populações, o ancião lamenta que hoje “as coisas vão de mal a pior”, razão por que espera que esse plano seja materializado.
“Há um ano que a água não jorra na minha casa”, deplora. E explica que, muitas vezes, a família tem de interromper o sono às quatro ou três horas da manhã para ver se a torneira jorra um pouco de água.
A estudante de Direito Eufrazina Mukanda partilha da mesma opinião e salienta que a população está a ressentir das dificuldades no acesso à água, por isso sugere que o Governo de Benguela trate disso com total prioridade, no âmbito do pacote dos 415 milhões de euros.
Também elenca a requalificação das valas de drenagem, jardins e das estradas urbanas, enfatizando que o asfalto, em muitas ruas da cidade de Benguela, desapareceu e deu lugar à poeira e buracos, que na época da chuva viram charcos e dificultam a circulação.
Para Eufrazina Mukanda, é imperioso a reposição da iluminação na cidade e nos bairros para aumentar o sentimento de segurança da população e desencorajar a criminalidade que tende a aumentar.
O funcionário público José Zayadiaku também vê “com bons olhos” a intenção de o Governo intervir nos municípios do litoral e apela a que as autoridades não desistam da promessa de transformar Benguela na Califórnia, prometida em 2017.
“A cidade de Benguela tem-se degradado aos nossos olhos”, observou, afirmando que, se a medida for executada, haverá melhorias significativas no capítulo da circulação automóvel, água, energia, saneamento, o que vai repercutir na imagem das cidades.
Já o secretário executivo provincial da coligação CASA-CE, Martins Domingos, defende que as infra-estruturas rodoviárias e o saneamento não constituem os únicos desafios que Benguela tem, pois é preciso acudir a situação social "muito precária" das famílias, a educação e saúde.
Automobilistas mais optimistas
O camionista Roberto Kanganjo reconhece que é urgente a intervenção nas vias, uma vez que a degradação é tal que coloca em causa a segurança dos condutores e peões que circulam pela cidade das Acácias Rubras.
Como consequência, Roberto Kanganjo reclama do desgaste dos pneus, sistema de suspensão e ainda da perda de parafusos que vão caindo na estrada devido à trepidação causada por enormes buracos e pedras.
Abraão Kasindurika, cidadão de nacionalidade namibiana, espera por melhorias na circulação rodoviária em Benguela, acrescentando que as péssimas condições das vias na circunscrição tem afectado, inclusive, a qualidade da mercadoria que normalmente transporta a partir de Santa Clara/Cunene para Luanda.
“Passo por Benguela há mais de dez anos, mas ultimamente tem sido difícil e a situação piora sempre que chove”, remata o camionista, aparentemente optimista em melhores dias para os homens do volante.