Luanda – A 6 de Dezembro de 2020, em pleno município do Cazenga, um acidente mortal, envolvendo um camião desgovernado, “acendeu ” os sinais de alerta sobre a insuficiente segurança ao redor do viaduto da Avenida Hoji-Ya-Henda.
Por: Pedro Lourenço
O camião perdeu o controlo e embateu violentamente contra os separadores de betão, ficando suspenso numa das faixas de rodagem do sentido Rangel/Cazenga.
Na sequência do forte embate, o motorista foi projectado de uma altura de quase cinco metros e teve morte imediata, numa zona em que “coabitam”, diariamente, a poucos metros de distância do viaduto, centenas de viaturas e dezenas de moradias.
Os danos na passagem de nível foram reparados três semanas depois, pela empresa do motorista do camião, sem necessidade de interrupção da circulação rodoviária.
Além da substituição do separador de betão e do corrimão metálico, destruídos pela pressão do embate do camião, foram também eliminados, no mesmo viaduto, os espaços abertos que permitiam o acesso de peões à faixa de rodagem.
O trabalho visou conferir maior segurança a quem circule pelo viaduto, que dispõe de 0,876 km de extensão e sete metros de largura, em cada um dos dois sentidos, bermas de um metro, passeios de dois metros e separador central de 60 centímetros.
Entretanto, se, para as autoridades locais, a questão da segurança ficou mais reforçada, há quem diga que ao redor do viaduto continua a haver risco iminente de acidentes que podem resultar em tragédia, se não se desalojar os moradores das áreas circundantes.
Afinal, quem circula pelo viaduto, erguido no desnivelamento da Avenida Hoji-Ya-Henda, no cruzamento do Caminho-de-Ferro de Luanda, precisa de redobrar a atenção.
O alerta é do engenheiro de construção civil Cristóvão Venâncio, que propõe ao Governo que crie condições de realojamento das famílias que vivem nas zonas adjacentes ao viaduto, para se prevenirem eventuais acidentes e futuros danos humanos.
Na visão do especialista, para além do despiste de viaturas por acidentes, podem existir placas soltas na calçada que oferecem perigo aos peões e às residências nos arredores.
O especialista sustenta que a manutenção periódica e preventiva é muito mais barata do que a reparação dos danos, depois que ocorrem acidentes ou quando o trânsito automóvel é interrompido, principalmente por acidentes constantes nos viadutos.
Para Cristóvão Venâncio, as obras de requalificação ou manutenção do viaduto poderiam ser feitas sem necessidade de interrupção do tráfego, situação passível de ser dificultada pela existência de residências nas proximidades da infra-estrutura.
Segundo o engenheiro, todos os problemas registados nas estradas representam risco para a população e usuários, pelo que devem ser resolvidos rapidamente.
Os moradores que vivem próximo do viaduto alertam para os riscos que correm em caso de possíveis acidentes rodoviários, situação que pode afectar várias residências.
Os moradores defendem o realojamento das famílias noutras zonas como a melhor solução para se evitarem tragédias, medida esta que acarretaria novos custos ao Estado.
A dona de casa Maria dos Santos, 60 anos de idade, moradora no distrito urbano do Rangel, conta que a sua casa começou a ter fissuras depois do início da construção do Viaduto. Além disso, vive com medo e não consegue “dormir em paz”, segundo afirma.
Os munícipes Maria Elizabeth, Manuela Kitota e Carlos Santos, residentes na zona adjacente ao troço Cazenga/Rangel, afirmam que as casas estão muito próximas da infra-estrutura e, na eventualidade de outro acidente, como o que aconteceu em Dezembro, os destroços da ponte e do camião podem atingir as residências.
Já as moradoras Teresa Miguel e Emília Manuel, residentes há mais de 40 anos no bairro Tala-Hadi (Cazenga), dizem que a maior parte dos vizinhos vive em perigo iminente.
Em concreto, alertam que, quando circulam camiões contentorizados pelo Viaduto, principalmente no período nocturno, as residências abanam.
Os moradores temem que próximos acidentes venham a acontecer, porque o espaço entre o Viaduto e as casas é de apenas dois metros de cumprimento, contra um mínimo de seis, conforme sustentam os moradores.
Afirmaram que o Governo está a par da situação e que, no início das obras do Viaduto, havia a promessa de transferência dos moradores para outras zonas, situação que até agora não se concretizou.
No âmbito do dossier sobre os 445 anos da cidade de Luanda, a ANGOP procurou ouvir a versão da Administração do Cazenga, que disse tratar-se de um assunto da esfera do Ministério do Urbanismo e Ordenamento do Território.
De igual modo, revelaram-se infrutíferas as tentativas de se ouvir algum responsável desse departamento ministerial, para reagir aos alertas de especialistas e moradores.