Caxito – Alfaiates, sapateiros e costureiras vêm se tornando profissionais cada vez mais escassos na província do Bengo, uma situação que tende a agravar nos próximos anos, em consequência do desinteresse na aprendizagem dessas artes pelas novas gerações.
Os poucos profissionais que persistem no ramo afirmaram à Angop que os jovens não demonstram interesse em seguir essas profissões e apontam como causa as baixas receitas que resultam dessas actividades, aliada ao facto de o material de trabalho ser caro.
A estes aspectos, junta-se a elevada quantidade de vestuário importado e pronto à vestir, a crescente industrialização no segmento de vestuário e as mudanças registadas nas últimas décadas na produção de roupas.
Na opinião destes profissionais, nos dias de hoje, a maioria das pessoas prefere adquirir roupas e calçados confeccionados em lojas ou boutiques, na vizinha cidade de Luanda, já que a província carece destes serviços sofisticados.
Está situação tem levado à redução do número destes artífices na província que, por falta de obras, acabam fechando as portas das suas oficinas, enveredando para outras profissões, frisaram.
Hoje conta-se quantos sapateiros há na província apesar da procura ser enorme, confidenciou António Gaspar, sapateiro de 60 anos de idade.
Disse que a província ressente-se destes serviços, pois obriga muitos a deslocarem-se a vizinha capital, Luanda, para consertar, ajustar ou mandar confeccionar novas roupas.
Para este mestre de profissão, a distribuição de kits de apoio devia ser mais abrangente, principalmente no tipo de material, de modo a manter certas artes e ofícios funcionais e evitar que os mais velhos abandonem a sua arte.
Juliana Domingos José, estudante de 20 anos de idade, disse que encontrar estes serviços no Bengo está cada vez mais difícil.
“Procuro muitas vezes por sapateiros e boas costureiras, mas a solução tem sido viajar para Luanda”, revelou.
Donana Ndongala Nunes, costureira há 11 anos, disse que o surgimento de lojas, mercados e boutiques fizeram diminuir a procura pelo seu trabalho.
Nestes locais, disse, as pessoas já encontram roupas prontas que se ajustam ao seu corpo, daí não haver necessidade de recorrer a uma costureira.
David Chambo, sapateiro há mais de 20 anos, disse que na sua época para sustentar a família teve de aprender a coser para consertar sapatos.
Hoje, informou, carrega a responsabilidade pessoal de formar mais de 50 jovens nesta profissão, o que não tem sido fácil, referiu.
Segundo informações da Administração Municipal do Dande, neste momento está ser feito um levantamento de todos os jovens que exercem estas profissões (sapateiros, alfaiates e costureiras) no sentido de serem inseridos no Plano de Acção de Promoção da Empregabilidade (PAPE) e beneficiarem também de kits, informou o director municipal dos tempos livres, Juventude e Desportos, Domingos Simão Campos.
Também com o intuito de impedir a extinção destas profissões na província, o Serviço Provincial do Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional informou que, em 2021, foram distribuídos, no âmbito do PAPE, para acudir estes profissionais, 259 kits profissionais.