Cahama - Famílias de algumas localidades dos municípios da Cahama e Ombadja, província do Cunene, estão abandonar as suas residências devido a estiagem, constatou a ANGOP.
Durante a presente época chuvosa, registaram-se chuvas moderadas apenas por duas vezes (24 de Dezembro e 5 de Janeiro), em algumas áreas dos citados municípios.
No município de Ombadja, 24 famílias na localidade de Calueque estão instaladas ao relento em baixo de árvores e em tendas, para trabalharem junto das fazendas e outras áreas produtivas, à margem do rio Cunene.
Entretanto, a ANGOP apurou nesta terça-feira que a localidade de Calongo (Cahama) é onde o fenómeno de abandono de residências mais se evidência, com o registo de 104 pessoas, perfazendo 11 quimbos.
Na sequência, jovens oriundos da comuna de Ontchinjau estão a deslocar-se aos centros urbanos e à vizinha República da Namíbia a procura de emprego nas fazendas agro-pastoris.
A situação afigura-se desoladora, no dizer da administradora municipal da Cahama, Maria de Lourdes de Oliveira, porque muitas famílias não dispõem de reservas alimentares e os campos, que são fontes de subsistência, estão improdutivos por falta de chuvas.
Segundo a responsável, na presente época agrícola a previsão de colheita seria de 325 mil toneladas de cereais, num total de 52 mil e 900 hectares, mas até ao momento não mereceram a lavoura devido a falta de humidade dos solos.
Neste contexto, informou que está em curso o processo de cadastramento das pessoas afectadas pelo fenómeno, tendo sido já registadas 43 mil e 386 famílias.
Para mitigar a situação, afirmou que administração, em coordenação com o governo da província, está a traçar estratégias para acudir às famílias que apresentam insuficiência alimentar.
Transumância do gado
A par do abandono de famílias, o fenómeno está a causar a movimentação de grandes manadas de gado bovino e caprinos em direcção à localidade de Dume, considerada a principal área de transumância (deslocação de pastores e rebanhos a procura de pasto).
De acordo com a administradora Maria de Oliveira, actualmente foram registados 42 mil bois e mais de 50 currais de caprino de criadores provenientes das localidades da Uia Gando, Shipelongo, kambum, Ashivandje e kavalawe, assim como dos municípios de Ombadja e dos Gambos (Huíla).
Para o criador de gado Tchali katangi, 71 anos de idade, é a primeira vez que leva o gado à transumancia no mês de Fevereiro, no sentido de salvar a sua manada, que registou a perca de 30 cabeças em 2019.
“Ao contrário de 2019, que movimentamos os animais nos meses Abril e Maio, este ano preferimos antecipar para evitar prejuízos maiores,”enfatizou.
Já a século de Calongo, Laura Natália, disse que o quadro é sombrio, realçando que apesar de ser um fenómeno natural e cíclico, este ano os sinais da seca chegaram muito cedo, temendo uma situação pior em relação a de 2019.
Lembrou que Fevereiro é o mês de lavoura e fartura de pasto e água para o gado, mas o cenário e contrário, realçando que desde a sua existência nunca testemunhou famílias a imigrarem na sua totalidade.
O que se registava era os esposos e rapazes deslocarem-se num determinado período (Agosto a Novembro) para levarem gado bovino nas áreas de pasto e os jovens a procura de trabalho nas cidades para sustentar as famílias.
O município da Cahama dispõe de duas comunas (Cahama sede e Ontchinjau ) e população estimada de 74 mil e 096 habitantes.
Apesar da seca em algumas regiões, a cidade de Ondjiva tem recebido chuvas com intensidade e regularmente, a exemplo das últimas 24 horas.
A província do Cunene viveu entre 2018 e 2019 uma seca severa que afectou 880 mil e 172 pessoas e mais de um milhão de cabeças de gados, maioritariamente bovino, dos quais 30 mil morreram.