Ondjiva – As autoridades tradicionais, religiosas e acadêmicas do Cunene enalteceram hoje, terça-feira, a iniciativa do Executivo pela criação da comissão de acompanhamento a execução das medidas de combate à fome à curto prazo nas províncias da Huíla, Namibe e do Cunene.
A equipa, constituída por vários departamentos ministeriais, terá o seu posto comando no município da Cahama, 200 quilómetros da cidade de Ondjiva (Cunene), com objectivo de garantir o desenvolvimento das operações logísticas no terreno em articulação com as autoridades locais, governos províncias e sociedade civil organizada.
Terá como missão imediata a elaboração de um plano de acção com vista a definir os prazos das distintas intervenções, identificação dos grupos alvos e definição do quadro de necessidades financeiras e logísticas.
Em declarações à ANGOP, o rei de Ombala-Ya-Nalueque, Mário Shatipamba, disse que a iniciativa do Executivo foi acertada, uma vez que estará unicamente virada para a criação de condições favoráveis às vítimas afectadas pela seca na região.
No seu entender, esta estratégia pode ser uma solução acertada para minimizar consequências desastrosas como as que se verificaram em 2018/2019, com a morte de muitos animais e surgimento de elavados casos de desnutrição em crianças e adultos, pois começa-se a entrar para o período mais crítico da seca, e o número de famílias afectadas com a fome começa a aumentar.
Para que isso não aconteça, aconselhou, é necessário reforçar o apoio em bens alimentares e, mais do que isso, planificar bem a sua distribuição, para que sejam abrangidas todas as famílias afectadas.
Neste quesito, alertou para que se preste maior atenção às famílias assentadas em zonas de difícil acesso, principalmente nos municípios da Cahama e do Curoca (Cunene), onde a maioria abandonou as casas por falta de comida.
“Apoiamos e estamos solidários com estas iniciativas que vêm beneficiar às famílias nas comunidades, augurando que a distribuição de bens seja mais abrangente e bem acompanhada”, afirmou.
O rei pediu o reforço das quantidades de bens distribuídos às famílias, de preferência se fossem produtos mais consumidos na zona, como o massango, milho, feijão, peixe seco, óleo e sal.
Em relação aos projectos estruturantes de combate à seca, em curso e outros por iniciar, Mário Shatipamba disse que seria bom que se reforçasse o abastecimento de água nas zonas mais críticas no período seco, para impedir que as famílias abandonem as suas zonas.
O pastor da Igreja Luterana, Jeremias Hihekelekwa, espera que a “Task Force” consiga, de facto, resolver as queixas da população relacionadas com a insuficiência dos bens distribuídos, que não chega para todos.
Disse que o governo, para atender toda a população afectada pela fome, deve apostar na abertura de estradas entre comunas, localidades e povoações, para facilitar a distribuição dos produtos, que não chegam por falta de vias de acesso.
Para Jeremias Hihekelekwa, uma das questões que deve ser analisada é a distribuição de moto-cisternas aos sobas e seculos, que fazem destes bens seus patrimónios. É necessário instruí-los de que são para servir a comunidade, através da distribuição de água.
Por seu turno, o docente da cadeira de Citologia, na Escola Superior Pedagógica do Cunene, Domingos Garcia, referiu que a criação desta equipa representa uma preocupação do governo com as populações em fazer chegar os bens alimentares com urgência e de forma equitativa.
Afirmou que na medida em que se espera a conclusão dos projectos estruturantes para o combate à seca na província, as autoridades devem continuar a construir furos de águas em todas localidades, para evitar que a população percorra muitos quilómetros em busca do líquido.
Domingos Garcia é de opinião que o governo, antes de implementar um projecto na comunidade, efectue um trabalho de auscultação com as autoridades do poder tradicional, que podem propor também outras soluções que vão de encontro à realidade local.
Estas zonas necessitam de infra-estruturas de reserva de água e medidas de reparação dos furos, assistência às populações nos domínios de alimentação, saúde e educação, sobretudo, dos grupo nómadas, frisou o docente, para quem a criação de mecanismos de abastecimento de água por meio de moto cisternas e outros equipamentos deve atingir as zonas de difícil acesso.
Resposta à Seca
A seca no centro sul do país (Cunene, Huíla, Benguela, Namibe e Cuando Cubango) afecta mais de um milhão de pessoas. Dados disponíveis indicam que até à presente data, o governo levou ao sul do país mais de 5.140 toneladas de bens diversos.
Para acabar em definitivo com este mal na província do Cunene, onde a problemática é mais profunda por efectar maior número de pessoas, para além da construção do Sistema de Captação de Água na região do Cafu, cujo término está previsto para Fevereiro de 2022, o Executivo preconiza o arranque, em Outubro deste ano, da Construção das barragens de Calucuve e de Ndúe.
No mesmo período terá início o projecto de recuperação de diques e açudes existentes no município do Curoca, 334 quilómetros da cidade de Ondjiva. No próximo ano está previsto o arranque do projecto de transferência de águas para regiões localizadas à margem direita do Rio Cunene, nomeadamente, as sedes municipais da Cahama, Oncocua e Chitado, bem como a reabilitação da repreza Cova do Leão. A perspectiva é de que a partir de 2023, quando estes projectos forem concluídos, o sofrimento de milhares de famílias e dos animais, o quadro bastante negativo venha a mudar de forma radical. |
