Luanda – O Clube Atlético de Luanda (CAL) apela à intervenção do Governo para travar a exploração indevida da Feira Popular, sede da agremiação desde os anos 60, de forma a devolver a mística do “Escola” e do nacionalismo angolano.
Ao tomar a palavra, no almoço de confraternização em alusão aos 98 anos do CAL, o nacionalista Amadeu Amorim, presidente do clube, lamenta o facto de a sede, onde foram forjados muitos dos cabouqueiros da Nação, estar a ser usada para a prática de algumas actividades ilícitas e indecorosas, “que já roçam a prostituição”.
Recorda que tudo começou quando os sócios do clube, todos nacionalistas, decidiram ceder o recinto para uma actividade do MPLA, organizada pelo Comissariado de Luanda, dirigido, na altura, por Agostinho Mendes de Carvalho ‘Uanhenga Xitu’.
“Estávamos na altura do partido único, finais dos anos 70, e a actividade era pela causa angolana, só que os anos passaram e as pessoas decidiram que o recinto não tem dono. Engano! A Feira Popular pertence, legalmente, ao Clube Atlético de Luanda”, desabafa Amadeu Amorim.
Lembra que é preciso repor a dignidade do espaço, para que o angolano de hoje, entre crianças e adultos, homens e mulheres, possam recrear, praticar desporto ou, simplesmente, desfrutar de algum momento de lazer, tomando contacto com a história dos jovens angolanos que, insatisfeitos com o domínio colonial português, decidiram empreender clandestinamente acções que conduziram à Independência de Angola.
“O Atlético não é apenas o clube onde nos destacámos como desportistas, mas foi, também, a escola dos filhos dos cozinheiros. A história do clube identifica-se com a resistência ao regime colonial português”, conta Amadeu Amorim.
Segundo o ex-campeão angolano dos 100 metros pelo Atlético, todo o processo resulta de “um tiro no próprio pé” que os portugueses se acabaram infligindo, ao decidirem empurrar a elite angolana dos Coqueiros para a Ingombota, da Ingombota para a Viuvinha (junto à Liga Africana) e, finalmente, para o musseque Bairro Operário, a sede do nacionalismo.
Considera que reaver a sede do Atlético é, também, homenagear todos quantos, de forma abnegada, conseguiram fazer do clube um verdadeiro arauto da angolanidade.
Nomes como João Melo, Demóstenes de Almeida, André Mingas Júnior, entre outros, têm de ser aqui lembrados como figuras de proa no universo desportivo do clube e da Angola colonial.
O Clube Atlético de Luanda foi fundado em Maio de 1924, tendo por base um conjunto de sócios e atletas dissidentes do Clube Naval.
